12 Setembro 2023
"Se a correlação de forças não pode ser abstraida, ela também não é imutável. É tarefa do governo organizar a disputa política para alterar a correlação de forças. Propor pautas e agendas que organizem o conflito social e chamem à mobilização", escreve José Luis Fevereiro, economista formado pela UFRJ e membro da Direção Nacional do PSOL desde 2007, em comentário publicado em sua página do Facebook, 07-09-2023.
Nunca achei que seria fácil. Vencer as eleições presidênciais por 1,8% de diferença, com uma bancada à esquerda na câmara que com muito boa vontade mal chega a 25% , com uma aliança ampla onde parte da grande burguesia e seus aparatos cumpriram um papel essencial, colocava limites muito claros as possibilidades do governo.
Escutei muitas bobagens nas plenárias de base do Congresso do Psol por parte dos setores minoritários do partido que querem nos levar para a oposição, na chave da "traição a compromissos de campanha". A correlação de forças não pode ser abstraida.
Lula na campanha defendeu a revogação do Teto de Gastos. Na vida real isso não seria possível sem um novo arranjo fiscal dado que as concepções macro econômicas da esquerda são minoritárias no senso comum da sociedade, minoritárias no Congresso e , espantosamente, minoritárias na própria esquerda.
Isto dito, e descartado o Terraplanismo dos que desconsideram a correlação de forças, o governo Lula deixa muito a desejar.
Se a correlação de forças não pode ser abstraida, ela também não é imutável. É tarefa do governo organizar a disputa política para alterar a correlação de forças. Propor pautas e agendas que organizem o conflito social e chamem à mobilização.
Lula com frequência diz que precisa da esquerda e dos movimentos sociais mobilizados. Excelente escutar isso do Presidente da República. Mas onde estão as pautas propostas pelo governo em torno das quais devemos nos mobilizar?
O Arcabouço Fiscal, se por um lado era inevitável, por outro poderia ter parâmetros mais flexíveis. Para isso precisava que o governo tivesse a ousadia de tentar. Mas o que vimos foi o ministro Haddad mais conservador que o Senado Federal aceitando sem resistência às alterações regressivas da Câmara ao projeto original que já era muito ruim.
O governo Lula repete o mesmo erro dos governos petistas de 2003 a 2016. Governa sem organizar a disputa, conformado com a correlação de forças dada. Nesta lógica se insere a demissão da ministra Ana Moser trocada pelo deputado Fufuca. Garantir votos na Câmara. Para quê? Qual a agenda progressista que poderá passar na Câmara a partir desta reforma ministerial?
Lula quer mobilização. Vai ter. Dificilmente o funcionalismo público federal deixará de se mobilizar contra a proposta de 1% de reajuste.
Nós que defendemos o governo e queremos que ele dê certo, gostaríamos de nos mobilizar a favor de alguma iniciativa do governo.
Nos dê motivo!