09 Setembro 2023
"As juventudes manauenses não são adequadamente cuidadas e valorizadas. Abandonadas pela sociedade, elas veem as suas potencialidades desperdiçadas, escorrendo entre os dedos das mãos. Nessa situação se tornam presas fáceis para o crime organizado e caem no desalento. O Grito dos Excluídos, no entanto, busca ser um espaço de renovação das esperanças. A iniciativa de ir às ruas é resultado da intuição de que juntos é possível fazer mais do que sozinhos".
O comentário é Sandoval Alves Rocha, SJ, doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.
Nesta quinta-feira, 7 de Setembro, a Arquidiocese de Manaus promoveu o 29º Grito dos Excluídos, em sintonia com as igrejas de todo o Brasil. A iniciativa aproveitou a data da comemoração da Independência política do Brasil para reivindicar dos poderes públicos a implantação de direitos básicos que são ignorados em todo o território nacional. A violação desses direitos tem gerado um exército de brasileiros desamparados e agredidos na sua dignidade de pessoas e cidadãos.
O evento começou no Centro de Convivência da Família Padre Pedro Vignola, com uma celebração eucarística presidida pelo Cardeal Leonardo Steiner. Na ocasião, centenas de pessoas rezaram pelo Brasil, lembrando diversas situações que afligem a população, como a falta de saúde, educação, cultura, emprego, moradia, terra, saneamento básico, etc. Todas essas situações afetam a qualidade de vida de milhares de brasileiros, enfraquecendo também a democracia e a independência da nação.
Depois da celebração os participantes saíram em caminhada até o Memorial do Cruzeiro – Cidade Nova II. Durante o trajeto, vários pronunciamentos foram realizados destacando as demandas da população de Manaus. Pegos de surpresa, os moradores da região foram levados a refletir sobre a má gestão da cidade, que abandona a maioria da população em situações de humilhação e privação.
Manaus, uma das cidades mais ricas do país, sendo situada no centro geográfico da Amazônia brasileira, poderia ser um exemplo de cidade sustentável, repercutindo uma mensagem de esperança, responsabilidade ambiental e justiça para toda a nação. Infelizmente, não é isso que ocorre! A capital amazonense padece por diversas chagas que muito atormentam o seu frágil corpo social. Os gestores, tradicionalmente demonstram pouca preocupação pela vida da cidade, se voltando principalmente para os próprios interesses.
A administração da cidade, que é conduzida pela lógica da acumulação capitalista, comumente ignora as necessidades mais básicas da população e não apresenta nenhuma sensibilidade ambiental. Em Manaus, os poderes públicos geralmente dão as costas para o povo e para as belezas naturais, tomando-as como inimigas a serem abolidas. A grande maioria dos manauenses vive em locais inapropriados para moraria, sofrendo a falta de saneamento básico, a precariedade do sistema de saúde e educacional, o desemprego, a exploração trabalhista e fome.
As juventudes manauenses não são adequadamente cuidadas e valorizadas. Abandonadas pela sociedade, elas veem as suas potencialidades desperdiçadas, escorrendo entre os dedos das mãos. Nessa situação se tornam presas fáceis para o crime organizado e caem no desalento. O Grito dos Excluídos, no entanto, busca ser um espaço de renovação das esperanças. A iniciativa de ir às ruas é resultado da intuição de que juntos é possível fazer mais do que sozinhos.
O Grito dos Excluídos é o grito daqueles que percebem que sempre é possível fazer algo para melhorar a vida coletiva, mesmo quando a situação não é tão favorável. Um grito pode despertar mentes e iniciar processos. É preciso lutar por uma pátria verdadeiramente livre.
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Manaus. Grito dos Excluídos reivindica direitos básicos. Artigo de Sandoval Alves Rocha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU