Não há Igreja sem fraternidade. Artigo de Enzo Bianchi

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22 Agosto 2023

"A Igreja esqueceu que um de seus primeiros nomes era adelphótes, fraternidade: é assim que o apóstolo Pedro chama a Igreja, como a recordar que, se não é fraternidade, é não Igreja", escreve Enzo Bianchi, monge italiano e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 21-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Mais uma vez, dados atualizados sobre a prática religiosa (católica) foram publicados na Itália. As pesquisas foram essencialmente duas e a leitura dos resultados é influenciada pela ideologia de quem conduziu o levantamento. Ainda que a interpretação dos sociólogos da corte seja menos atestada, percebe-se um certo desejo de tranquilizar sobre as condições da fé na Itália ou, ao contrário, destaca-se a catástrofe que paira sobre o futuro da Igreja. De qualquer forma, registra-se uma queda vertiginosa na frequência dos católicos à missa dominical: segundo as pesquisas por amostragem, entre 15 e 19% dos entrevistados declaram participar com certa continuidade, mas, na opinião de alguns bispos que fizeram uma verdadeira “contagem” dos fiéis, o percentual seria mais baixo e no Centro-Norte não chegaria a 10%. O que surpreende é que nos últimos vinte anos o número de praticantes assíduos tenha caído pela metade e dobrado o número daqueles que nunca participam da liturgia católica. Muitos, superficialmente, vislumbraram a causa da queda no fechamento das igrejas ocorrido durante o lockdown, mas na realidade existem outras e mais profundas causas e elas vêm do passado.

Armando Matteo, teólogo atento aos dados sociológicos e à vivência da Igreja, já dez anos atrás observava que os jovens são "a Igreja que falta" e hoje o abandono da vida sacramental após a confirmação é atestado em todos os lugares, porque nem 10% continuam a assistir à missa.

Por que tanto desinteresse entre os jovens? Por que a interrupção na transmissão da vida cristã?

Já respondi várias vezes, com uma posição pouco compartilhada, mas a meu ver a causa é dupla: de um lado, a perda da fé (não da religiosidade, nem da espiritualidade), da fé em Cristo Senhor que nos liberta da morte e dá sentido às nossas vidas e, do outro lado, o fato de que nas assembleias cristãs não existe uma experiência de fraternidade. As liturgias são anônimas, monótonas, não deixando espaço nem para a oração nem para o reconhecimento como irmãos e irmãs. Os jovens afirmam: “Mas o que de vital me oferece a participação na missa? O que levo comigo em termos de confiança, esperança e comunhão com os outros?”

A Igreja esqueceu que um de seus primeiros nomes era adelphótes, fraternidade: é assim que o apóstolo Pedro chama a Igreja, como a recordar que, se não é fraternidade, é não Igreja, é cena religiosa, é rito humano venerável, mas não é comunhão com os outros e com Deus. O reitor de Notre-Dame de Paris denunciou o crescimento de uma tendência identitária entre os jovens católicos franceses, mas esse resultado parece pouco provável na Itália, onde haverá apenas o progressivo abandono da Igreja e o deserto da fé. A ideia da necessidade de participação no culto comunitário só se sustenta sob o signo da fraternidade. E não tenham saudades da “piedade popular”, que agrega para celebrar festas em nome do folclore, não em vista da comunhão entre os crentes e com Deus.

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