28 Julho 2023
Os dois enviados do Papa no Peru devem investigar um grupo eclesial por supostos abusos sexuais e outros crimes relacionados, mas se deparam com dezenas de agricultores que pedem ao Papa que defenda suas terras ameaçadas por esse grupo.
A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 28-07-2023.
Ontem, na capital do Peru, na sede da Nunciatura Apostólica, os enviados do Papa, dom Charles Scicluna e padre Jordi Bertomeu, ouviram um grupo de agricultores do norte do país sul-americano que denunciou o assédio judicial e o risco de serem despejados de suas terras como resultado da forma como as empresas próximas ao Sodalício da Vida Cristã (SVC) operam em grupo. Esta associação de leigos, mas que inclui padres e um bispo peruano, está há anos sob investigação do Vaticano por graves acusações de abuso sexual no passado. Seu fundador Luis Figari, um fugitivo da justiça no Peru, parece viver na Itália muito protegido por altos membros da hierarquia católica.
D. Ch. Scicluna e Mons. J. Bertomeu (Foto: Catholic News Agency)
“Viemos informar para que o Santo Padre saiba das injustiças que esta sociedade ligada ao Sodalício está cometendo, tomando posse das terras dos agricultores”, disse Marcelino Inga, um dos membros da comunidade de San Juan Bautista de Catacaos, à AP. Inga estava acompanhada da viúva de outro agricultor, assassinado em 2011 em uma disputa de terras, e de outro líder comunitário que já foi processado mais de 20 vezes.
A comunidade está localizada na região de Piura, perto do Pacífico, no norte do país.
Segundo a denúncia dos agricultores, 1.895 hectares da comunidade de San Juan Bautista de Catacaos, onde vivem cerca de 100 famílias, acabaram nas mãos de uma empresa ligada à Associação, após uma série de mudanças. Essa empresa tentou despejá-los já em 2014, disse o agricultor Inga.
Os agricultores desconhecem as transferências de propriedade e o caso de despejo ainda não foi resolvido pela justiça local.
O agricultor Percy Maza, 39 anos, disse que por ter lutado em defesa de suas terras "minha vida foi uma tortura, anos presos, meus cinco filhos continuam sofrendo. A justiça em Piura e no Peru está podre, para isso há esperança: o Vaticano", acrescentou.
O Papa Francisco enviou dois emissários ao Peru – o arcebispo de Malta, dom Charles Scicluna, e o padre espanhol Jordi Bertomeu, funcionário do Dicastério para a Doutrina da Fé – para investigar a fraternidade do Sodalício.
Os dois padres investigadores interrogaram dirigentes do Sodalício, supostas vítimas e jornalistas que investigaram as denúncias feitas contra a organização religiosa por supostos abusos sexuais cometidos no passado por alguns de seus membros e sua gestão econômica.
Nesses dias devem terminar seus trabalhos em Lima e retornar ao Vaticano.
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Agricultores peruanos se manifestam perante os emissários do Papa, D. Scicluna e Pe. Bertomeu, por suas terras. Um caso inédito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU