10 Julho 2023
Os autores do estudo controverso, argumentam que o aquecimento global não deve ser medido apenas pela temperatura média global, mas também pela desigualdade entre os países e os impactos sobre os ecossistemas.
A reportagem é de Henrique Cortez, com informações de CabonBrief, publicada por EcoDebate, 07-07-2023.
O estudo propõe um novo conceito chamado “fronteira climática segura e justa”, que combina três dimensões: a temperatura média global, a diferença de temperatura entre os países mais ricos e mais pobres, e a perda de biodiversidade. Os autores afirmam que essa fronteira foi ultrapassada em 1988, quando a temperatura média global atingiu 0,8°C acima dos níveis pré-industriais.
Segundo os autores, o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris é insuficiente para garantir a segurança e a justiça climática, pois ignora as disparidades entre as nações e os danos à natureza. Eles defendem que o objetivo deve ser reduzir a temperatura média global para 0,5°C abaixo dos níveis atuais, o que exigiria cortes drásticos nas emissões de gases de efeito estufa.
No entanto, o estudo recebeu críticas de outros cientistas, que questionaram a metodologia e as conclusões dos autores. Alguns argumentaram que o conceito de fronteira climática segura e justa é arbitrário e não baseado em evidências científicas. Outros apontaram que o estudo não leva em conta as incertezas nas projeções climáticas e os benefícios da adaptação e da mitigação.
O estudo levanta questões importantes sobre os critérios para definir o limite climático seguro e justo, mas também mostra as dificuldades e os desafios para alcançá-lo. O debate sobre o assunto deve continuar na próxima Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que será realizada em novembro deste ano em Glasgow, no Reino Unido.
Infográfico sobre para visualizar os Earth System Boundaries (ESBs). (Foto: Reprodução | EcoDebate)
Informações do estudo sobre o infográfico
Visualização de ESBs seguros (vermelho escuro), apenas (NSH) ESBs (azul), casos em que limites seguros e justos (NSH) se alinham (verde) e estados globais atuais (ícones da Terra). Os eixos radiais são normalizados para ESBs seguros. Os limites globais da estimativa principal ou central (Tabela 1) são plotados para oferecer suporte à comparação com o estado global atual, mas enfatizamos que também definimos limites subglobais e múltiplos níveis de probabilidade para muitos domínios (Tabela 1). Para aerossóis, no entanto, exibimos os limites subglobais para comparar limites seguros e justos.
Para o nitrogênio, traçamos com uma linha azul tracejada a quantificação do limite para os danos do nitrato nas águas subterrâneas, observando que o limite justo também deve incorporar considerações seguras por meio da eutrofização, levando a um limite seguro e justo mais rigoroso. O acesso mínimo à água, alimentos, energia e infraestrutura para todos os seres humanos (linha verde pontilhada) poderia constituir a base de um ‘corredor’ seguro e justo (área preenchida com verde), mas não quantificamos essa base aqui. Visualizações alternativas são apresentadas em Dados Estendidos.
Referências
- ‘Safe and just’ climate boundary has already been breached, says contested study. Disponível aqui.
- Rockström, J., Gupta, J., Qin, D. et al. Safe and just Earth system boundaries. Nature 619, 102–111 (2023). DOI: disponível aqui.
Leia mais
- Temperatura global bate recordes por dois dias seguidos
- Aumento das temperaturas globais deve superar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais nos próximos 5 anos
- Emissões de gases de efeito estufa estão em níveis sem precedentes
- Maioria das capitais brasileiras não tem plano de enfrentamento às mudanças climáticas
- A mudança climática transformará a maneira como vivemos
- Entenda as causas e os efeitos das mudanças climáticas
- COP26. Instituições religiosas anunciam o maior desinvestimento em combustíveis fósseis da história
- Mudança climática terá mais impacto nas populações mais pobres
- Mudança climática piora a frequência e severidade das inundações
- A rebelião dos cientistas contra a inação climática. Entrevista com Charlie Gardner
- Mudança Climática – Risco de inundação já afeta 1,81 bilhão de pessoas
- Resumo do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC
- As emissões globais de combustíveis fósseis batem recorde em 2018
- Podemos obter 100% da nossa energia a partir de fontes renováveis? Sim, dizem cientistas internacionais em novo artigo
- Aumento de temperatura global de 2°C duplica a população exposta a múltiplos riscos climáticos em comparação com um aumento de 1,5°C
- Planos de produção de combustíveis fósseis dos governos estão além dos objetivos do Acordo de Paris
- "Com o aquecimento global, um quarto dos furacões do mundo será devastador"
- O mundo teria déficit ambiental mesmo eliminando os países ricos
- Economia Indonésia ultrapassa o Brasil
- Níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingem novo recorde
- Aquecimento global é uma grave ameaça à saúde, aponta relatório da revista The Lancet
- Paradoxo climático: países anunciam cortes de emissões, enquanto planejam produzir mais combustíveis fósseis
- Cientistas relacionam a incidência de furacões mais destrutivos, como o Irma, ao aumento da temperatura global
- Alcançar os objetivos de temperatura global estabelecidos no Acordo sobre o Clima de Paris é improvável
- Estudo indica que faltam apenas quatro anos para mantermos o aumento da temperatura global em até 1.5º C
- Nasa revê dados de temperatura global
- Ninguém presta atenção aos recordes de temperatura global
- Mudança climática requer uma gestão policêntrica dos recursos hídricos. Entrevista especial com Bruno Puga
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Estudo controverso afirma que limite climático já foi ultrapassado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU