26 Junho 2023
Um bispo católico do Benin nomeou cerca de uma dezena de padres para percorrer a diocese e ouvir as preocupações e perguntas dos fiéis.
A reportagem é de Juste Hlannon, publicada por La Croix International, 22-06-2023.
O Santuário de Nossa Senhora de Lagunes, em Maria Topka, na capital do Benin, é o centro de muita atividade. Mas às sextas-feiras – com missa, catequese e via-sacra – esse lugar conhecido como “o coração mariano da diocese” de Porto Novo ganha vida.
Então, quando as atividades espirituais semanais chegam ao fim, as pessoas gravitam para a casa ao lado, na beira da lagoa, onde o frei Fernand Aniouvi está sentado em uma mesa sob um dossel com uma placa que diz: "Local de escuta e orientação". O padre capuchinho escuta com serenidade uma senhora de 60 anos que lhe confia as suas preocupações.
A cena é fruto de uma iniciativa que dom Aristide Gonsallo anunciou em fevereiro passado, na sequência da consulta da diocese de Porto Novo para o Sínodo sobre a sinodalidade.
“Seguindo a dinâmica desta consulta, nosso bispo considerou oportuno que este espaço seja um local de escuta e orientação, onde os fiéis possam se encontrar com um sacerdote para discutir questões de fé”, explicou André Nayéton, pároco responsável de coordenar a dezena de padres que o bispo designou para a tarefa.
Com efeito, a síntese diocesana recomendava "uma escuta atenta e permanente dos fracos e oprimidos", propondo "instituir e favorecer a pastoral da escuta" na diocese.
Existem várias etapas no processo de escuta, explicou Nayéton. “Começo por acalmar a pessoa que vem ser ouvida, desdramatizando suas preocupações e comparando-as com a Palavra de Deus; assim posso confortá-la e tranquilizá-la”, disse.
É somente após essas preliminares que, dependendo da natureza do problema apresentado, o sacerdote sugerirá "os passos pessoais necessários para encontrar Jesus na Eucaristia e superar o problema apresentado".
Nayéton disse que, entre as pessoas que têm vindo a este santuário mariano do Porto Novo nos últimos cinco meses, estão "especialmente mulheres, neste caso mães, preocupadas consigo próprias, com os filhos e com os cônjuges, e em busca da Palavra da iluminação de Deus sobre o que eles estão passando".
O centro de escuta, por assim dizer, também acolhe "jovens que vêm fazer perguntas ligadas às suas preocupações com o futuro, como ter uma vida bem-sucedida, mas também sobre as fragilidades humanas, incluindo a questão da doença".
Aniouv disse que os católicos costumam falar sobre "conflitos interpessoais, conflitos de relacionamento e consequências de práticas sincréticas, essa tendência de acreditar que o mal que ataca sempre vem de alguém que não nos quer bem".
Por outro lado, Pe. Nayéton disse que há certas questões que ficam fora do escopo dessas consultas. "Este não é um lugar para tratar de problemas de subsistência, nem de questões de bruxaria e feitiços, estes últimos da alçada dos exorcistas", esclareceu.
Quando começou este novo "ministério de escuta" em fevereiro passado, dom Aristide foi muito claro quanto ao seu propósito: "recomendações para sua vida espiritual", disse o prelado de 56 anos.
“A Unidade de Escuta e Orientação é composta por sacerdotes devidamente formados”, disse o bispo nomeado em 2015. Entre eles estão “párocos, religiosos, instrutores de seminários e a equipe permanente do santuário”.
Essa reorganização do ministério da escuta parecia soar como o dobre de finados para práticas semelhantes realizadas por leigos na diocese. Mas Nayéton disse que isso se justifica. “Em certos grupos, os leigos estão se convidando para este ministério pastoral, o que é perigoso”, disse o padre. “Nenhum leigo está autorizado a exercer o ministério de escuta dentro da diocese; somente os sacerdotes estão autorizados a fazê-lo”, declarou.
“Minha experiência com movimentos carismáticos faz com que eu tenha sentido em minha pastoral paroquial que muitas vezes as aberrações surgem da má orientação dada aos nossos fiéis quando eles vão aos líderes desses grupos, que às vezes não os orientam como deveriam”, acrescentou Aniouvi, o sacerdote capuchinho.
“Diante das aberrações observadas desde o advento do fenômeno cismático de Banamè, esta iniciativa do bispo é de grande importância”, insistiu, referindo-se à chamada “Igreja Privada de Banamè”, fundada em 2011 por um jovem beninense afirmando ser Deus.
"Nosso bispo ofereceu este ambiente como se dissesse aos fiéis: 'Se você quer ser ouvido, vá até Maria Tokpa'", disse o padre Nayéton. "Venha e você encontrará um padre, um ministro de Deus, um amigo", prometeu.
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Alinhado com a sinodalidade, bispo africano cria um novo “ministério da escuta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU