20 Junho 2023
Nestes dias, o cardeal Daniel Sturla, salesiano, arcebispo de Montevidéu, no Uruguai há 9 anos, está no Ticino, hóspede do Instituto Suíço de Lugano. Nós o encontramos e conversamos com ele sobre o Uruguai, a Igreja, o Sínodo.
A entrevista é de Katia Guerra, publicada por catt.ch, 17-06-2023.
Cardeal Sturla, o que o trouxe a Ticino?
Estou aqui por três motivos: o mais importante é que fui convidado para presidir hoje à ordenação de 6 sacerdotes salesianos em Bolonha. Além disso, há muito tempo queria melhorar meu italiano. Então estou tendo aulas aqui em Lugano. Finalmente, há uma amizade com o Pe. Giordano Piccinotti da Helvetico e com a Fundação Ópera Dom Bosco no mundo que ajuda muito o meu país.
Você pode nos apresentar ao Uruguai?
O Uruguai é o menor país da América Latina e tem uma população de apenas 3,5 milhões. Também foi chamada de Suíça da América Latina por causa de sua democracia bem estabelecida. De fato, após a ditadura entre 1973 e 1984, conseguiu construir um estado democrático, com pouca corrupção e partidos políticos que conversam entre si. Tem uma boa distribuição de riqueza. No entanto, uma parcela da população vive na pobreza. Nos últimos anos, a insegurança e a violência cresceram, ligadas em parte à disseminação das drogas. O país tenta ultrapassar estas dificuldades e também a sua dependência econômica: vive da exportação de produtos alimentares e do turismo. Recentemente, tem investido na indústria de papel.
Como está a Igreja uruguaia?
Do ponto de vista religioso, o Uruguai é um país altamente laico. Basta dizer que os nomes das festas religiosas mudaram: a Semana Santa tornou-se a do turismo, o Natal o dia da família, a Epifania o dia das crianças. Apenas 40% da população se declara católica, 12% evangélica, enquanto cresce o número de pessoas que se declaram sem religião. A nossa, pela sua história, é uma Igreja pobre e livre, pequena e bonita: pobre porque sem ajuda do Estado, portanto livre de compromissos, pequena porque há poucos fiéis praticantes, bonita porque trabalhamos muito e com alegria.
Qual a sua opinião sobre o Uruguai e o Sínodo sobre a Sinodalidade?
Respondo sob dois pontos de vista, porque também sou membro da Secretaria Geral do Sínodo, eleito pelos bispos da América Latina. No que diz respeito ao Uruguai, trabalhamos bem, mas os tempos eram difíceis para podermos envolvê-los e a resposta não foi empolgante. Para a fase continental e a assembleia que aconteceu em Brasília, minha impressão é que as expectativas são muito altas e que com a publicação do Instrumentum laboris [que será em alguns dias] pode haver algumas decepções. Aspectos que emergiram como o papel e a ordenação das mulheres, os grupos que se sentem excluídos, o celibato dos sacerdotes, relativos à moral sexual não estão estritamente ligados ao Sínodo, mas sim comunhão, participação, missão. Nesse sentido, a iniciativa do Papa Francisco é muito importante, porque promove a ideia de uma Igreja composta por todo o povo de Deus, não só de sacerdotes e consagrados, mas também de leigos. É uma ferramenta para recriar o sentimento de pertença.
Estamos no Instituto Suíço frequentado por jovens. Como são os jovens no Uruguai?
A situação é variada. Por um lado, a secularização roubou a esperança aos nossos jovens e a sua situação é difícil: aumentaram os suicídios entre os adolescentes e existe o problema da toxicodependência. Acho que isso também está relacionado à falta de fé. Mas também há uma bela juventude que participa da vida da Igreja e se coloca a serviço dos pobres, mesmo que sejam uma minoria.
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“A nossa Igreja no Uruguai é pobre e livre, pequena e bela”. Entrevista com o cardeal Sturla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU