29 Junho 2023
"Não apenas números, mas acima de tudo ideias e inovações – é isso que procura a Limina. Uma boa notícia para toda a teologia católica; não só, certamente também para a cultura e sociedade europeia".
O artigo é de Marcello Neri, teólogo e padre italiano, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, publicado por Settimana News, 18-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desde a publicação do primeiro número da revista Limina, expressão da Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Graz, na Áustria, já se passaram 5 anos e dez números.
Para a ocasião, o conselho editorial organizou uma conferência (16 de junho) sobre o tema “Transforming Theology. De que teologia nosso tempo precisa?” e um workshop dentro do grupo editorial como uma oportunidade para revisitar o percurso realizado, colocá-lo sob o escrutínio de colegas fora da faculdade e iniciar novas estratégias para o futuro da revista.
Vamos tentar apresentar brevemente, sem pretensão de sermos exaustivos, algumas das sugestões oferecidas no dia da conferência.
Aberta com uma intervenção da escritora Nava Ebrahimi, caracterizou-se depois por intervenções interdisciplinares de viés teológico (G. Hunze; G.C. Pagazzi; I. Guanzini; I. Bruckner). Para encerrar com um debate que envolveu jovens nomes da teologia austríaca (D. Feichtinger; M. Koci; A. König; D. Novakovits).
A introdução literária não foi apenas por estilo, mas, para além dos temas de interesse teológicos e religiosos abordados por Ebrahimi, evidenciou-se um aspecto sobre o qual a teologia católica contemporânea deveria prestar atenção. Aquele de uma estética da linguagem que saiba honrar o logos da fé. Não como um simples acompanhamento, mas como uma parte sem a qual aquele logos não pode ressoar como deseja.
Particularmente significativa foi a presença de Cesare Pagazzi, atual secretário da seção educativa do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé.
Importante o eixo sobre o qual se moveu sua palestra, destinada a apreender nas experiências comumente humanas da vida cotidiana aquele lugar, compartilhado e compartilhável por todos, sobre o qual a teologia católica deve enxertar a especificidade de seu discurso –não apenas como destinado a todos, mas também e principalmente como um discurso que encontra na comum experiência humana do viver a sua fonte – a mesma da qual Jesus hauriu.
Presença significativa também porque marcada pela cordialidade, reciprocidade e escuta no eixo teologia-instâncias vaticanas, mostrando sua proximidade e disponibilidade na aprendizagem. Algo da riqueza desse dia cabe a Roma, cultivada na sã inteligência do próprio trabalho em favor de toda a Igreja.
Algo de que a teologia e o Vaticano precisam para resolver mal-entendidos que muitas vezes nascem de distâncias que não têm razão de existir.
A questão fundamental das demais intervenções girou em torno do pivô da (faltante) "relevância" da teologia católica nos diversos âmbitos com os quais ela interage: da Igreja à universidade; do crente aos distantes; da sociedade às formas de comunicação, só para citar algumas.
Sinal de uma teologia que se questiona, saudavelmente inquieta e não satisfeita em cultivar seu próprio quintal. De uma teologia que deseja estar entre homens e mulheres, para dar sua própria contribuição no jogo acadêmico dos conhecimentos, para derramar a sabedoria que a habita na cotidianidade dos dias.
Tudo inserido numa atmosfera cordial, cuidada e cultivada. A própria disposição da sala da conferência expressava a intenção básica do comitê editorial da Limina: trabalho coletivo, debate, troca de ideias e experiências – com uma abertura que não estabelecia limites prévios. Às vezes, nos pequenos sinais escondem-se potencialidades que precisarão ser retomadas com atenção e método.
Muitas sugestões também surgiram durante o workshop de sábado. O grupo de Graz vai ter muito em que pensar, mas é por isso que decidiu parar a rotina das publicações para deixar-se analisar por outros. Emergiram também as tensões que perpassam o trabalho de uma revista científica no atual contexto universitário: entre visibilidade e conteúdos; entre expressão de uma faculdade e internacionalidade; entre estratégias impostas pelas estruturas e visões que pedem experimentos cujos resultados não são previsíveis. E assim por diante.
O mérito é certamente o de ter querido submeter-se a uma “revisão”, a um olhar tanto amigo quanto severo. Não apenas números, mas acima de tudo ideias e inovações – é isso que procura a Limina. Uma boa notícia para toda a teologia católica; não só, certamente também para a cultura e sociedade europeia.
Revista Limina (Divulgação: Settimana News)
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Graz: uma revista e a teologia que virá. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU