09 Mai 2023
A vítima de pedofilia mais idosa acaba de completar 80 anos. Chama-se Dietmar Achleitner e quando criança frequentava um internato religioso onde foi abusada regularmente, por sete longos anos. O mais jovem tem cerca de cinquenta anos; ele também teve o mesmo destino. São cerca de vinte as vítimas de padres católicos alemães e austríacos que decidiram organizar uma longa viagem de bicicleta partindo da Alemanha, atravessando a Cordilheira dos Apeninos, até o Vaticano, para protestar na Praça São Pedro contra a falta de uma estratégia coerente e clara para erradicar o fenômeno da pedofilia na Igreja.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 08-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A chegada deles está prevista para meados do mês. Durante as várias etapas programadas rezam, visitam as autoridades religiosas do local e contam a todos suas história. Querem provocar uma reflexão e deixar claro que não é mais possível calar e que os danos sofridos devem ser ressarcidos material e moralmente. Há entre eles, por exemplo, uma pessoa foi repetidamente violentada na piscina da escola dirigida pelos padres, outras enquanto desempenhavam a função de coroinhas, outras ainda quando estavam envolvidos em várias atividades paroquiais. Naturalmente, eram todos menores de idade na época dos casos. Neste último ano, a Igreja na Alemanha se comprometeu maciçamente a virar a página, dar um rosto aos agressores e reconhecer às vítimas os danos muito pesados que sofreram (obviamente, providenciando um ressarcimento). As vítimas deram vida a um projeto chamado "Lutas contra os abusos? Contem com a gente!"
Na semana passada, depois de se despedir e receber a bênção da viagem do vigário da arquidiocese de Munique e Freising, os ciclistas partiram de bicicleta da Marienplatz de Munique para Roma. Os peregrinos se encontrarão com o Papa em 17 de maio para entregar uma mensagem e uma edição da obra de arte "Heart" do artista Michael Pendry, que simboliza seu empenho. A 'excursão' não se afigura fácil já que terão de percorrer uma distância de 720 quilômetros (e 4.500 metros de subida). Naturalmente tudo é dividido por etapas contínuas e descanso. Durante a viagem, os participantes encontrarão representantes da Igreja e do Estado em diversos lugares para iniciar um diálogo sobre tratamento e prevenção dos abusos sexuais.
As despesas de viagem foram totalmente cobertas pela Arquidiocese de Munique. Juntamente com as vítimas, outros ciclistas se juntaram ao grupo para expressar sua solidariedade e apoio. Os promotores Dietmar Achleitner, 80, e Robert Köhler, 59, explicaram que o protesto de bicicleta, embora pitoresco e bizarro, serve para fazer as pessoas pensarem e evidenciar os acobertamentos da Igreja. “A sociedade não quer permitir que uma Igreja seja incapaz de acertar as contas com o passado. Diremos ao Papa Francisco que a falta de coerência deve ser severamente sancionada. A Igreja precisa de coração e empatia pelas pessoas afetadas". Tudo é muito simbólico para os participantes, a começar pela mochila que carregam, cheia de pertences pessoais e naturalmente de traumas. Achleitner relata ter sofrido assédio sexual dos dez aos dezessete anos, como coroinha, por um sacerdote em Salzburgo. “Foi uma espécie de assassinato espiritual e mental, que carreguei comigo por toda a minha vida".
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Alemanha. Vítimas de abusos vão de bicicleta até o Papa: 720 km de Munique a Roma para pedir justiça, indenizações e transparência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU