09 Mai 2023
"Sabemos pela história que as comunidades cristãs em determinado momento provaram ser tão precárias a ponto de serem apagadas da geografia da terra. Sim, durante muitos séculos, pelo menos aqui na Europa, as igrejas pareceram poderosas, em condições de segurança, mas hoje os cristãos estão reduzidos a uma minoria em um contexto em que domina a indiferença. Mas, na verdade, essa seria a condição normal dos cristãos no mundo. Anômala era a cristandade de Constantino até os tempos modernos", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 08-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
No Ocidente estamos convencidos de que a dimensão em que nos encontramos a viver hoje é a precariedade: sofremos mais com essa condição do que em outras épocas. A vida desde sempre é algo precário - nasce, cresce, decai - mas hoje temos mais consciência disso. E se o termo "precariedade" remete ao que se obtém com a oração (prex), indica também o que é provisório, não garantido para sempre.
A própria condição humana é precária, mutável, instável, frágil: cada ser humano é sempre destinado a nascer, crescer e depois decair até morrer. O que sempre deve despertar maravilha, porém, é que Deus não apenas tenha criado realidades precárias, mas depois de criá-las, as tenha reconhecida como "boas e belas" (cf. Gn 1). Poucas coisas são tão precárias quanto uma flor, mas quem, ao contemplá-lo, não consegue ver sua beleza?
Os católicos removeram a precariedade, especialmente quando pensam na Igreja e nas realizações espirituais de suas empreitadas. Se sentem garantidos pela palavra de Jesus: Non praevalebunt (Mt 16,18), interpretando-a ilegitimamente como seguro, garantia. No entanto, Jesus não isenta da precariedade a comunidade cristã, apenas lhe assegura que nela, como no mundo, o mal não terá a última palavra.
Sabemos pela história que as comunidades cristãs em determinado momento provaram ser tão precárias a ponto de serem apagadas da geografia da terra. Sim, durante muitos séculos, pelo menos aqui na Europa, as igrejas pareceram poderosas, em condições de segurança, mas hoje os cristãos estão reduzidos a uma minoria em um contexto em que domina a indiferença. Mas, na verdade, essa seria a condição normal dos cristãos no mundo. Anômala era a cristandade de Constantino até os tempos modernos. Jesus tinha falado apenas de sal, de luz, de uma cidade posta no cume de um monte (cf. Mt 5, 13-16), tinha também descrito a dinâmica do Reino evocando aquela do fermento na massa (cf. Mt 13,33). Ser uma minoria, ainda que escondida, não significa ser insignificantes, fracos, frágeis, não significa ser espiritualmente decadentes. Hoje vemos muitas comunidades "precárias", pouco eficientes e pouco visíveis, incapaz de eloquência e de ser uma presença em condições de se fazer ouvir. Mas na realidade o que importa é que essas realidades vivam segundo o Evangelho, sejam sinais de narração de Jesus Cristo. Pobres e fracas, ou numerosas e fortes, na realidade o que importa é que deem testemunho sobretudo do mandamento novo, ou seja, definitivo, deixado a eles por Jesus: aquele do amor recíproco.
“Quando estou fraco, então é que sou forte” (2 Cor 12, 10), confessava o apóstolo Paulo, e isso pode ser vivido também nas situações de precariedade comunitária. Armand Veilleux escreveu: "Mesmo com a nossa fraqueza, ou precisamente por causa da nossa fraqueza, temos uma missão a cumprir num mundo sofredor" e São Bernardo, numa situação de crise e de insucessos em sua vida, vagueava pelos bosques repetindo: "Ó bendita fraqueza!", porque confessava aprender mais com a sua fragilidade do que com a sua força.
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A força da fraqueza. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU