08 Mai 2023
"Os crimes de pedofilia não acabaram. Ainda há muito para desenterrar", constata Luis Badilla, jornalista, em artigo publicado por Il sismógrafo, 05-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os abusos sexuais na Igreja, pedofilia ou não, são fatos atuais, às vezes descobertos por acaso. Não se trata de eventos do passado, ultrapassados. Basta dar uma olhada nos noticiários da imprensa internacional todos os dias para entender melhor o que está acontecendo.
O discurso cheio de autoridade e bem articulado do Santo Padre hoje aos membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores coincide com uma onda midiática de denúncias de pedofilia clerical, de revelações surpreendentes e condenações judiciais severas, entre as quais a prisão perpétua de um sacerdote peruano. Essa concomitância é triste, muito amarga e ao mesmo tempo alarmante. É uma coincidência que evidencia, por um lado, que os ensinamentos do Pontífice não têm toda a eficácia desejada e nem mesmo o poder dissuasor que se espera há décadas. É claro que, apesar do trabalho, em particular do Papa Ratzinger e do Papa Francisco, das normas disciplinares, da adequada formação sacerdotal, das instruções e orientações para os bispos e muito mais, a Igreja não consegue – se não minimamente – deter esses “crimes e pecados". Essa é uma primeira constatação que deveria ser proferida e analisada para o bem da própria Igreja.
Porém, ao mesmo tempo, há outra constatação a fazer e que evidencia, justamente nestes dias, o horrendo caso do já falecido jesuíta espanhol Alfonso Pedrejas. Os crimes desse pedófilo em série vieram à tona muitos anos após sua morte por puro acaso. Os relatos, publicados no "El País" (Espanha) que o jesuíta havia arquivado em seu computador e em um diário, descobertos por um sobrinho do padre, colocam um questionamento devastador: quantos outros casos semelhantes estão enterrados sob a poeira do tempo ou sob o silêncio conivente de institutos religiosos, superiores ou pessoas próximas aos criminosos?
Os crimes de pedofilia não acabaram. Ainda há muito para desenterrar. Não só isso. Há também o mundo obscuro dos abusos sexuais de mulheres religiosas, consagradas ou mulheres fragilizadas por parte de sacerdotes. Os culpados são muitas vezes homens de poder, prestígio e fama. Naturalmente não se trata de pedofilia, mas ainda assim são abusos sexuais muito graves, mesmo que subestimados.
Nesse âmbito há um capítulo aberto e ainda obscuro, aquele do jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik, que pesa cada dia mais na consciência do mundo católico.
Permanece sem resposta a pergunta sobre o motivo de o Papa ter cancelado a esse padre da Companhia de Jesus a excomunhão que lhe havia sido imposta poucos dias antes pelo Dicastério para a Doutrina da Fé.
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Papa Francisco e a tutela dos menores, mas também o que a imprensa relata todos os dias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU