12 Abril 2023
"As celebrações da Palavra na ausência do padre devem ser desenvolvidas. Com um cordial agradecimento às comunidades informais atuantes no território paroquial", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 08-04-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Duas iniciativas leigas suscitam discussão entre as comunidades interessadas. A primeira é um opúsculo lançado no início de fevereiro na Bélgica e assinado por nove crentes (leigos e leigas), empenhados sobretudo na diocese de Liège (Bélgica). O título é: Vamos devolver a Igreja ao povo de Deus! Para acabar com o clericalismo. A segunda vem da Conferência Católica dos batizados francófonos e é datada de 27 de março. É uma série de propostas para associar os leigos no governo da Igreja.
O opúsculo belga é o resultado de um ano de trabalho do grupo que o assina. Em cerca de 60 páginas desenvolvem sete reflexões: o acesso aos sacramentos; a sua eficácia; o sacerdote: missão ou ordenação, indivíduo ou comunidade?; o lugar da mulher na Igreja; as primeiras comunidades sem padres?; abusos de poder e clericalismo; onde há Igreja e onde não.
Partindo da prática cristã dos interessados e de um bom conhecimento da linguagem eclesial, as reflexões propostas são inseridas no seu serviço comunitário. Tanto o assistente espiritual da prisão como o da casa de repouso, depois de terem acompanhado durante muito tempo os presos e os idosos, se deparam nos pedidos de perdão sacramental, o primeiro, e do sacramento dos enfermos, o segundo.
A impossibilidade prática de ter um padre termina com a negação do sacramento. Eles "foram codificados, isolados do resto da vida e conferidos exclusivamente ao monopólio do padre". "Estamos presos em modelos que não correspondem mais à nossa realidade." “O que devemos considerar central: poder celebrar livremente um sacramento como dom superabundante de Deus ou depender de um tipo preciso de pessoa, neste caso o padre?”.
Se toda a vida do crente é "sacramental", o que justifica essa rígida reserva apenas aos ordenados face às perguntas explícitas dos crentes?
A passagem para a pergunta sobre o padre é pertinente. O caminho das primeiras comunidades de escolher o "presbítero", reconhecendo o seu carisma entre os outros (catequistas, serviço aos pobres, etc.) parece o caminho mais adequado em relação à via “sacerdotal”, que confere ao interessado direitos e poderes incontestáveis, como a presidência da eucaristia ou a tutela da verdade. “A visão de um padre ontologicamente transformado é um grande obstáculo para a consciência comunitária, sinodal da Igreja e um freio à sua credibilidade”.
Em vez de recorrer a padres estrangeiros pertencentes a culturas estranhas, seria mais saudável recorrer a leigos e leigas locais. Superando, em particular, os preconceitos injustificados contra as mulheres. Não se trata de pedir a ordenação para as mulheres, mas de poder celebrar livremente a Eucaristia. “A Igreja está presente na assembleia e, na ausência do ministro, por que um batizado não pode se tornar um suplente e presidir a celebração?”.
O clericalismo nasce do poder sacral e de uma ordenação que separa. Portanto, não se trata de alargar as regras do ministério: “Pensamos, pelo contrário, que para suprimir o clericalismo seja necessário suprimir o clero”. Isso resultaria na reformulação de todo o sistema institucional.
O debate imediatamente se inflamou, transbordando também para os jornais locais (La Libre Belgique). Em poucas horas, uma petição reúne cerca de mil assinaturas críticas. Contesta-se a dimensão apenas horizontal do opúsculo, o desconhecimento dos sacramentos, um juízo injusto sobre os padres.
No dia 17 de fevereiro, intervém o bispo Jean-Pierre Delville: “Ancorada na Palavra de Deus e na tradição da fé, a Diocese de Liège está aberta à reflexão teológica, ao debate e às discussões. As questões postas pelos autores no início são pertinentes, mas as respostas são mal formuladas. Lamento o caráter caricatural do texto, mas mais ainda o fato de que a reflexão proposta contesta a posição do Concílio Vaticano II e condena dois mil anos de vida cristã”.
A Conferência dos batizados francófonos, ativa desde 2008 na área linguística, publicou no dia 28 de março uma dezena de propostas para “abrir rapidamente um diálogo construtivo com os bispos, como com todos os batizados, para implementar um conjunto de indicações mais adequadas à realidade de vida das nossas comunidades eclesiais". Sob a égide da abertura, da participação e da subsidiariedade, "convém desenvolver as dimensões colegiais da comunhão na organização das nossas comunidades de Igreja".
Para as dioceses há uma insistência por uma maior atenção ao sínodo universal em andamento. “É urgente que as dioceses se apropriem das contribuições pré-sinodais dos católicos para continuar o diálogo iniciado”.
No que diz respeito ao governo, as "decisões diocesanas parecem orientadas apenas em razão da falta de padres", enquanto a dimensão comunitária de todos os organismos diocesanos deveria ser desenvolvida ou restaurada. A começar pelas já previstas pelo direito canônico. Com especial atenção ao papel das mulheres. Podem ser criados conselhos ad hoc para os problemas mais prementes.
Do ponto de vista pastoral, é bom afastar-se do imperativo "nada sem o padre", desenvolvendo a consciência do sacerdócio comum.
Sobre a questão financeira, pede-se a transparência dos balanços diocesanos, sabendo das dificuldades atuais. As receitas estão substancialmente ligadas às ofertas e aos legados.
Em geral, pede-se uma governança que não se esgote na simples arbitragem, mas que acostume todos a um projeto comum compartilhado.
Para as paróquias, sugere-se ao pároco uma dinâmica participativa (uma assembleia anual, um grupo de acompanhamento de conflitos, encontros de adultos). Lamenta-se que os padres não sejam envolvidos no processo sinodal e que as paróquias confiadas às "novas comunidades" tenham perdido seu caráter territorial e direto.
Recomenda-se que os padres sejam acessíveis e valorizem os diáconos onde existirem. "Muitos padres estão silenciosos ou desmotivados."
Do ponto de vista financeiro, a comunicação deve ser clara e fundamentada.
Liturgicamente, constata-se um caminho para trás: fastígios, vestimentas, novas distâncias, etc. Enquanto deveriam ser desenvolvidos novos ministérios do leitorado e do acolitado, sem mais distinções de sexo.
Particular atenção deve ser dada aos funerais, um lugar não sacramental, muitas vezes administrado por leigos.
As celebrações da Palavra na ausência do padre devem ser desenvolvidas. Com um cordial agradecimento às comunidades informais atuantes no território paroquial.
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França-Bélgica: as inquietantes perguntas dos leigos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU