27 Março 2023
O abraço do Papa às famílias das vítimas de dois terríveis acidentes nas minas que aconteceram em abril do ano passado na Polônia, com três dias de distância um do outro.
A reportagem é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire, 25-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há sofrimentos que tiram as palavras, diante dos quais resta só o silêncio. E uma pergunta: por quê? Um trágico assombro que o Papa mais uma vez manifestou ao encontrar os familiares das vítimas de dois dramáticos acidentes nas minas na Polónia. E foi como voltar para Lampedusa em 2013 onde, diante dos massacres de migrantes, Francisco havia falado da necessidade e da importância das lágrimas. Como em 2017 no hospital pediátrico "Gaslini" em Gênova, quando admitiu francamente que não encontrava explicação para o sofrimento das crianças. A mesma a dor silenciosa daquele dia ressoou ontem no Palácio Apostólico.
Aqui, recebidos na Sala do Consistório, o Pontífice saudou um a um os familiares dos mineiros poloneses mortos nas explosões das minas de carvão em 20 e 23 de abril de 2022. Nenhum discurso escrito de parte do Papa, apenas algumas palavras espontâneas e de improviso. “Obrigado pela visita – começou o Bispo de Roma -. Diante de vocês, não sei o que dizer. O silêncio é compassivo. Perder o marido, o pai em um acidente assim, é ruim. E também o fato de alguns estarem enterrados ali, nas minas…”.
Os acidentes ocorreram no ano passado com poucos dias de diferença, ambos no sul da Polônia. Em 20 de abril, uma explosão na mina de carvão em Pniowek provocou cinco mortos e sete desaparecidos. Três dias depois, em Zofiowka, o balanço foi de pelo menos dez trabalhadores engolidos pela terra dos quais não se sabe nada mais. Agora no Vaticano diante do Pontífice estão as mães, as esposas, os filhos daqueles mineiros. Vidas varridas num instante, sem sequer a possibilidade de uma última despedida e de uma sepultura onde depositar uma flor.
Francisco parece entendê-lo e o discurso fica interrompido. “A oração – murmura – às vezes, nestes momentos... parece que Deus não está nos ouvindo. Existe o silêncio dos mortos e o silêncio de Deus. E esse o silêncio às vezes nos deixa com raiva. Não tenham medo: essa raiva é uma oração. É um dos ‘por quê?’, que repetimos continuamente nestas situações”.
O questionamento diz respeito ao coração das pessoas atingidas pela dor, mas também, do ponto de vista da justiça civil, às medidas de segurança nos locais de trabalho. Entre as hipóteses mais plausíveis, pelo menos em uma das duas minas na Silésia é que o acidente foi devido a um terremoto.
Uma hipótese que alimenta ainda mais a pergunta inicial: por quê? Por que justamente comigo, justamente conosco? E logo depois: quem vai cuidar das pessoas que ficam, quem vai conseguir quebrar a escuridão que sentem no coração? A resposta está no Evangelho, é na compaixão de Jesus que chora a morte de seu amigo Lázaro, está nos homens e nas mulheres, consagrados ou não, que dedicam a existência a consolar aqueles que têm mais dificuldade em dar sentido aos dias que os esperam. A resposta, explica agora o Papa é Cristo: “Na escuridão - explica - o Senhor está perto de nós. Não sabemos como, mas está perto".
Mas seria inútil detalhar os limites de uma presença que não pode ser descrita. Porque cada um tem sua própria maneira de implorar e receber. Uma oração tão íntima que às vezes faltam palavras para dizê-la, não bastam nem mesmo as fórmulas, se fica com o coração na espera, e os olhos abertos, atento para captar a chegada de uma nova luz. Nenhum discurso é suficiente. Nem mesmo do Papa que, sabendo disso, evita o recurso às frases feitas, por mais sábias e preciosas que possam ser.
“Também eu faço a oração em silêncio e dou-vos a minha bênção” conclui o Pontífice que depois saúda os presentes um a um. Nenhum discurso elegante, nenhuma reflexão teológica. Nem mesmo uma imagem buscada no vocabulário da poesia. Simplesmente silêncio. Mas caloroso, sincero e afetuoso, como só os abraços podem ser.
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Francisco: não sabemos como, mas na escuridão o Senhor está perto de nós - Instituto Humanitas Unisinos - IHU