09 Março 2023
Encontro “Viver Juntos”, organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e reunido no dia 6 de março em Bagdá, revelou posições divergentes sobre diversidade étnico-religiosa no Iraque.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“No Iraque há diversidade étnico-religiosa”, disse o diretor do Programa de Ajuda Cristã para o Norte do Iraque e membro da Igreja do Oriente, Emanuel Youkhana. "Temos muçulmanos — xiitas e sunitas — e diferentes famílias cristãs — ortodoxos, católicos, da Igreja do Oriente; temos yazidis, comunidades judaicas, mandeístas, zoroastianos, bahá'ís e kaká'ís."
O padre Antoine Al Ahmar, do Departamento Teológico de Beirute do Conselho de Igrejas do Oriente Médio, lembrou que muito antes de o Iraque ser um país muçulmano a fé e as culturas Yazidi e Kaka’i precederam o Islã em centenas de anos no país. “Para esses grupos, ter pouco reconhecimento é um problema”, admitiu.
Um palestrante da comunidade Kaka’i frisou que a comunidade sequer existe “oficialmente”. Outro zoroastriano disse que eles também não são reconhecidos legalmente no país onde, embora somem dois mil anos de história. “É hora de mudar isso e que esta plataforma ofereça espaço seguro para compartilhar essas questões com o governo”, defendeu.
Al Ahmar admitiu que a lei do Iraque não garante igualdade para todos. “O currículo educacional nem menciona a existência de grupos minoritários”, exemplificou. Infelizmente, agregou, os iraquianos passam pela escola e pela faculdade sem ver uma palavra sobre essa diversidade, e não há nada a respeito na mídia, nos noticiários.
Na palestra de abertura do encontro, o ex-ministro do interior iraquiano e atual conselheiro de segurança nacional, Qassem Al-Araji, manifestou a disposição e os esforços do governo iraquiano na adoção de uma estratégia de gestão da diversidade. Ele destacou a contribuição dos atores da sociedade civil e dos líderes religiosos no desenvolvimento dessa estratégia.
Youkhana lembrou a visita do Papa Francisco a Bagdá há dois anos. “Ele trouxe uma mensagem de solidariedade e esperança”, disse. A partir dessa visita, todos os anos, no dia 6 de março é comemorado o Dia Nacional da Tolerância.
Participaram do encontro representantes do Executivo e Legislativo iraquiano, representantes de agências e embaixadas, e foi hospedado pelo CMI, representado pela executiva do organismo ecumênico internacional para o Oriente Médio, Carla Khijoyan.
A República do Iraque ocupa o território que foi o berço da civilização suméria no Oriente Médio, por volta de 4.000 a.C. Em março de 2003, uma coalizão liderada pelos Estados Unidos invadiu o país, sob a alegação de que iraquianos estavam produzindo armas nucleares. A retirada americana ocorreu em 2011. Em 2014, a violência religiosa explodiu no país e o grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante tentou instalar um califado na região. O país ainda enfrenta instabilidade política.
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Autoridades e líderes religiosos analisam diversidade de crença no Iraque - Instituto Humanitas Unisinos - IHU