01 Fevereiro 2023
O Evangelho, como brasa sob as cinzas, é fogo que renasce e queima o coração de um pequeno resto, que só tem uma força: não temer.
O comentário é do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 30-01-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Matteo Zuppi, em seu discurso ao Conselho Permanente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), com um olhar realista, mas não angustiado, evocou as palavras várias vezes repetidas por Bento XVI que descreviam a Igreja de hoje como “uma realidade menor, mais pobre, quase de catacumba, mas também mais santa. O renascimento será obra de um pequeno resto, aparentemente insignificante, mas indômito, renascido mediante um processo de purificação. Contra o mal, o pequeno rebanho resistirá”.
Sim, agora é reconhecido por todos que a cristandade acabou e que a Igreja, pelo menos no Ocidente, está reduzida a uma minoria em diáspora. No entanto, especificou Zuppi, isso não significa que não deva ser uma Igreja do povo; pelo contrário, é importante evitar toda lógica elitista.
Essa esperança eficaz deveria habitar o coração dos cristãos e dissipar todo temor diante de um fato a ser aceito: que nos tornamos uma minoria. O decisivo, na realidade, é que a minoria seja significativa, portadora de uma bela notícia para a humanidade de hoje. Na história, muitas vezes, foram as minorias que determinaram seu futuro, por serem capazes de incitar uma mudança urgente para a convivência.
Certamente, se olharmos para o hoje com olhos paralisados pela presença da escuridão, acabaremos nos sentindo como os últimos cristãos. Na Bíblia, os profetas levantavam a voz para denunciar a incredulidade e a idolatria dos contemporâneos. Jesus mesmo chamou aqueles no meio dos quais vivia e pregava de “geração adúltera e malvada”.
Ao longo da história, encontramos condenações da infidelidade e da falta de fé, mas também expressões de desorientação diante das mudanças, reações que hoje, mais do que nunca, nos parecem próximas às que se verificam no nosso tempo. Anselmo de Havelberg escrevia por volta de 1160: “Muitos se surpreendem, se interrogam e se indignam: por que tantas novidades na Igreja? Quem não ficará escandalizado e contrariado com essas mudanças, essas novidades?”. E, quatro séculos depois, Teresa d’Ávila dizia: “Ainda não tenho 50 anos e vi tantas mudanças na Igreja que não sei mais como viver. Como isso vai acabar? Prefiro nem pensar! Não ouso nem pensam em que esses jovens vão se tornar!”.
No século passado, o cardeal Verdier, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, ousava escrever: “O mundo hoje sofre uma crise cuja gravidade não pode ser exagerada! Já estamos à beira do abismo. Desde os dias do dilúvio não houve uma crise espiritual tão profunda!”.
Ler esses testemunhos deve nos colocar em alerta e nos levar a repensar as nossas previsões hoje tão negativas sobre a Igreja.
Falta-nos sabedoria e não temos fundamentos para esperar que o cristianismo sempre renasça. Muda o modo de vivê-lo, mudam as Igrejas que o professam e às vezes o traem... Mas o Evangelho, como brasa sob as cinzas, é fogo que renasce e queima o coração de um pequeno resto, que só tem uma força: não temer!
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O renascimento do cristianismo. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU