02 Dezembro 2022
O jornalista Carlos Fernando Chamorro, uma das principais vozes do exílio nicaraguense, considerou nesta quarta-feira que “há medo” entre os padres católicos do país face ao “aumento crescente” da repressão do regime de Daniel Ortega.
A reportagem é publicada por Infobae, 01-12-2022. A tradução é do Cepat.
“Os Ortegas não são contra a religião, são contra a liberdade. A Igreja Católica se solidariza com as vítimas (da repressão); eles querem uma Igreja silenciosa, alinhada com o poder”, denunciou Chamorro.
O jornalista, irmão da ex-candidata a presidente e também encarcerada Cristiana Chamorro, participou hoje em Paris de um ato de apoio aos presos políticos na Nicarágua, dois dias depois de a Sorbonne ter concedido um doutorado Honoris Causa à histórica ex-guerrilheira Dora María Téllez, encarcerada em seu país desde junho de 2021.
Segundo os últimos dados disponíveis, há aproximadamente 10 padres nicaraguenses presos, entre eles o bispo da diocese de Matagalpa e administrador apostólico da diocese de Estelí, ambas no norte da Nicarágua, Rolando Álvarez, acusado de ser rebelde.
“Falo com muitos padres e há um clima de medo entre eles. Se falam, prejudicam seus bispos”, acrescentou Chamorro, vencedor do Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo em 2021.
Para o ativista da oposição, esta crescente repressão contra a Igreja Católica demonstra que o regime de Ortega também ataca a “liberdade religiosa” com seu método de “crueldade e vingança”.
O exilado assegurou que a Nicarágua se baseia em “um messianismo” encarnado por Ortega e em uma “repressão preventiva” semelhante à dos regimes de “Cuba, Venezuela e Rússia”.
“Precisamos de maior pressão internacional para conseguir o isolamento total dessa ditadura”, defendeu o jornalista, que, no entanto, sublinhou que os Ortegas cairão se houver também uma mobilização interna, no momento anestesiada pelo “medo” que reina no país.
Chamorro fez um apelo especialmente aos governos da esquerda democrática da América Latina para que pressionem Ortega e sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo.
“Há esperança, mas a agonia pode se prolongar por muito tempo”, alertou o repórter, que garantiu que atualmente o regime controla o Exército, a polícia e os paramilitares.
O opositor ao regime pediu mais atenção internacional ao que está acontecendo na Nicarágua e optou por unir os setores majoritários que estão insatisfeitos com o regime, mas não ousam se manifestar.
O ato de hoje, apoiado pela Câmara Municipal de Paris, terminou com um concerto do jovem cantor e compositor nicaraguense Jandir Rodríguez.
A Nicarágua atravessa uma crise política e social desde abril de 2018, que se agravou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão.
Ortega, de 77 anos, está há 15 anos e 10 meses consecutivos no poder, em meio a denúncias de autoritarismo e fraude eleitoral.
Nesta semana, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) declarou que a Nicarágua “desrespeita permanentemente” as numerosas ordens de libertação de opositores presos.
Enquanto isso, o Comitê contra a Tortura e o Subcomitê para a Prevenção da Tortura da ONU exortaram hoje o regime de Ortega a cumprir os tratados de direitos humanos que subscreveu.
Nesta quarta-feira, a Agência EFE denunciou que as autoridades do país proibiram a entrada de seu delegado em Manágua, o nicaraguense Luis Felipe Palacios, quando se preparava para retornar à nação centro-americana após uma viagem de trabalho ao Panamá.
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Nicarágua. Medo toma conta da Igreja Católica devido à crescente repressão do regime de Ortega - Instituto Humanitas Unisinos - IHU