Loucura pastoral. “Opção Francisco”, por Armando Matteo

(Foto: Reprodução)

Mais Lidos

  • “A América Latina é a região que está promovendo a agenda de gênero da maneira mais sofisticada”. Entrevista com Bibiana Aído, diretora-geral da ONU Mulheres

    LER MAIS
  • A COP30 confirmou o que já sabíamos: só os pobres querem e podem salvar o planeta. Artigo de Jelson Oliveira

    LER MAIS
  • A formação seminarística forma bons padres? Artigo de Elcio A. Cordeiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

07 Novembro 2022

Francisco nos exorta a não termos medo de mudar: a não termos medo de mudar a nossa ação pastoral e a não nos fixarmos loucamente naquela ação pastoral que foi muito eficaz para as gerações passadas.”

Chegamos à nona contribuição (outubro de 2022) da coluna “Opção Francisco”, assinada pelo teólogo Armando Matteo para a revista Vita Pastorale e republicada por Settimana News, 04-11-2022.

Matteo é padre, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto do Dicastério para Doutrina da Fé. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo artigos da série.

Eis o texto.

Há uma frase atribuída a Einstein que pode iluminar com felicidade uma passagem central da “Opção Francisco”. A frase é a seguinte: “É uma loucura imaginar obter resultados diferentes fazendo sempre as mesmas coisas.” Pois bem, parece-me que devo registrar dolorosamente uma espécie de “loucura pastoral” em curso nas nossas comunidades.

Mesmo estando perfeitamente conscientes dos resultados falimentares de uma certa forma de organizar a iniciação cristã dos nossos pequenos, por exemplo, muitos párocos e muitíssimas catequistas continuam levando em frente exatamente o mesmo modo de organizar as coisas. Não é verdade, talvez, que todos sabem o que acontece com as crianças da primeira comunhão no domingo seguinte à celebração desse sacramento? Simplesmente desaparecem.

Não é verdade também que todos sabem ainda o que acontece com os jovens e as jovens da crisma no domingo seguinte ao dia de sua confirmação? Simplesmente esquecem o endereço da paróquia.

No entanto, nada muda em relação à preparação oferecida para a primeira comunhão e para a crisma. E isso é o que eu chamo de “loucura pastoral”.

Já se trata de uma “loucura” em relação à qual a própria Opção Francisco nos adverte e nos convida a nos distanciar. Sabe-se lá quantas vezes cada um de nós terá ouvido o Papa Francisco repetir fortemente que não podemos mais nos valer da segurança oferecida pela ideia de que “sempre se fez assim”. No âmbito da evangelização, nunca é possível se referir a esse tipo de raciocínio. Hoje de modo particular.

A evangelização de que precisamos consiste precisamente em fazer surgir um desejo de Jesus no coração dos homens e das mulheres contemporâneos a nós, que são muito diferentes de seus genitores e ainda mais de seus avós. Em particular, ao considerar a disponibilidade de nossos contemporâneos para a possibilidade de despertar neles um desejo pelo Evangelho, pesa justamente aquela mudança de época já analisada que levou o Ocidente do vale de lágrimas dos séculos passados para as terras do bem-estar do nosso tempo.

Assumir agora a “Opção Francisco” implica recuperar toda a plasticidade própria do agir pastoral. “Pastoral”, aliás, tem a ver com pasto, com a refeição e, portanto, com o apetite. Colocar em ação um agir pastoral eficaz significa trabalhar para que o testemunho dos fiéis mostre a “palatabilidade” do Evangelho para uma vida bem-sucedida e completa exatamente para os homens e as mulheres de hoje. Estes expressam uma presença no mundo milhões de vezes diferente daquela que marcou seus genitores e seus avós.

Francisco nos exorta, portanto, a não termos medo de mudar: a não termos medo de mudar a nossa ação pastoral, a não nos fixarmos loucamente naquela ação pastoral que foi muito eficaz para as gerações passadas, a encontrar gestos e estilo de uma presença cristã que diga aos nossos contemporâneos – adultos ou jovens – que não há nada de mais desejável do que se encontrar com Jesus e se apaixonar por ele.

Leia mais