17 Outubro 2022
A Carta Fé na Democracia, que tem como signatários diversas entidades e pessoas, é liderada pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva, fundado e presidido pelo Lama Padma Samten, o ISER – Instituto de Estudos da Religião, a Iniciativa Fé no Clima e o Instituto Caminho do Meio. A visão expressa na Carta acompanha a trajetória dessas entidades ao longo de sua existência e não se resume aos momentos eleitorais das nações.
A Carta Fé na Democracia congrega expressões religiosas, ambientais, direitos humanos, povos tradicionais, cientistas, ativistas sociais, que manifestam através desse documento valores que acreditam ser fundamentais para o momento crítico que vive o Brasil.
O Brasil está num momento muito grave, onde a democracia está sendo questionada sistematicamente, inclusive com graves ameaças ao equilíbrio entre os poderes e a Constituição, pilares de uma nação republicana. Isso resulta em descrédito e falta de confiança das pessoas e instituições.
Na economia, a alta de preços dos produtos necessários à sobrevivência oprime as famílias e leva ao endividamento, a falta de empregos tira a possibilidade e perspectiva de futuro para milhões de pessoas e a fome reaparece com potência e assola as periferias.
As florestas e biomas, fundamentais para a existência da biodiversidade e manutenção da vida no planeta, são constantemente ameaçados, destruídos e desprotegidos pelas autoridades, trazendo severas mudanças no clima e, com isso, toda a vida poderá ser sucumbida.
As comunidades tradicionais, em especial as indígenas, estão sendo impelidas a condição anterior à Constituição de 1988, deixando de ser reconhecidas nos seus direitos fundamentais, voltando a ser ameaçadas e retiradas de seus territórios por força das invasões de suas terras, queimadas, grilagem, garimpo e narcotráfico.
A educação pública brasileira está fora das prioridades, sofrendo a redução drástica de recursos, difamação do ensino e dos profissionais, e descaracterização das estruturas educacionais, em todos os níveis. Somado a isso a ausência total de diálogo e o autoritarismo governamental.
A Pandemia de Covid evidenciou o movimento de descaracterizar o SUS brasileiro, através da ausência de definições e coordenação no nível federal, somada às orientações equivocadas e sem comprovação científica na prescrição de tratamentos. A demora na aquisição de vacinas e os maus exemplos quanto a sua importância corroboram para o descrédito.
A violência é aquecida pela facilitação do comércio e aquisição de armas e por falas de ódio que colocam as pessoas em permanente estado de tensão e aflição, aumentando a insegurança, a discriminação racial, territorial, de gênero, sexual e de afetos.
Nesse sentido, propomos valores que consideramos fundamentais na definição do próximo presidente do Brasil e seus comandados, assim como as instâncias legislativas e judiciárias, com respeito à Constituição e às declarações e convenções internacionais dos valores e direitos fundamentais dos seres humanos e daelei.
Pelo direito à vida digna, sustentável e preciosa. Bem-estar físico, emocional e social. Redes humanas assentadas em compaixão, pacificação, valorização, respeito e lucidez.
Por uma cultura de paz, em todos os níveis e em todos os lugares. Nos opomos às visões autoritárias, sectárias, armamentistas e violentas nas disputas políticas e no convívio social. Uma paz que nos permite falar e ouvir com abertura e interesse.
Por uma justiça social e pela liberdade. Acesso amplo às condições básicas (físicas, emocionais e sociais) de apoio à vida: infraestrutura básica; alimentação de qualidade; saúde integrada e preventiva; segurança física e emocional; justiça ampla e restaurativa; educação que inclua o livre pensar, o respeito à diversidade, o mundo interno e as emoções; liberdade de movimento, pensamento e expressão.
Pela valorização das diferentes culturas e expressões que compõem nossa sociedade, incluindo os povos tradicionais, as expressões e modos de vida de matriz africana, as diferentes culturas e religiões, as mulheres, as diferentes expressões de gênero, sexualidade e afeto. Uma postura que vá além da tolerância: que inclua generosidade, respeito e um interesse genuíno por todos os humanos.
Por proteção, apreciação e reconexão com o meio ambiente, a partir da consciência da interdependência entre toda a vida na Terra e da compreensão dos impactos de nossos movimentos nos diferentes grupos humanos, nos animais e vegetais, na terra, nas águas e na atmosfera. A proteção dos ecossistemas e o fortalecimento de práticas agrícolas familiares, saudáveis, orgânicas, integradas ao meio ambiente e às culturas tradicionais.
A auto-organização e as redes de apoio, através do favorecimento da formação de redes baseadas em solidariedade, apoio mútuo e visões não sectárias de coletividade. Construção de espaços múltiplos de diálogo, de associações comunitárias, de fomento de projeto e de ações construídas coletivamente de forma horizontal e descentralizada.
Garantia da democracia e respeito à Constituição, com participação ampla da sociedade em conselhos municipais, estaduais e federais. Comunicação pública ampla e transparente entre governos e sociedade civil. Mais espaços de abertura para que a sabedoria das diferentes redes possa se traduzir em políticas públicas responsáveis e efetivas.
Com isso acreditamos que os postulantes ao mais alto posto da nação possam se colocar numa posição elevada, de interesse real pelo país, cuidando das pessoas e da natureza, de forma pacífica, gerando esperança, confiança e alegria num futuro respeitoso, honrado e altivo.
Outubro de 2022.
Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB)
Instituto Caminho do Meio (ICM)
Instituto de Estudos da Religião (ISER)
Iniciativa Fé no Clima
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Carta Fé na Democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU