30 Setembro 2022
O comentário é de Jose Antonio Pagola, teólogo espanhol, autor de diversos livros, como “Jesus: uma aproximação histórica” (Vozes, 2007), publicado por Religión Digital, 26-09-2022.
Dúvidas podem surgir no crente sobre um ponto ou outro da mensagem cristã. A pessoa se pergunta como entender uma determinada declaração bíblica ou um aspecto particular do dogma cristão. São questões que pedem mais esclarecimentos.
Mas há pessoas que vivenciam uma dúvida mais radical, que afeta o todo. Por um lado, sentem que não podem ou não devem abandonar a sua religião, mas, por outro, não conseguem pronunciar com sinceridade aquele “sim” total que a fé implica.
Aquele que se encontra assim costuma experimentar, em geral, um desconforto interior que o impede de abordar sua situação com paz e serenidade. Você também pode se sentir culpado. O que poderia ter acontecido comigo para chegar a isso? O que posso fazer agora? Talvez a primeira coisa seja abordar esta situação positivamente diante de Deus.
A dúvida nos faz experimentar que não somos capazes de "possuir" a verdade. Nenhum ser humano "possui" a verdade suprema de Deus. Aqui as certezas com as quais lidamos em outras ordens de vida não funcionam. Diante do mistério último da existência temos que caminhar com humildade e sinceridade .
(Foto: Cathopic)
A dúvida, por outro lado, testa minha liberdade. Ninguém pode responder por mim. Sou aquele que me vê confrontado com a minha própria liberdade e aquele que tem de pronunciar um "sim" ou um "não".
Por isso, a dúvida pode ser o melhor repulsivo para despertar de uma fé infantil e superar o cristianismo convencional. A primeira coisa não é encontrar respostas para minhas perguntas específicas, mas me perguntar que direção quero dar à minha vida. Eu realmente quero encontrar a verdade? Estou disposto a me permitir ser desafiado pela verdade do Evangelho? Prefiro viver sem buscar nenhuma verdade?
A fé brota do coração sincero que se põe a ouvir a Deus. Como diz o teólogo catalão E. Vilanova, "a fé não está nas nossas afirmações nem nas nossas dúvidas. Está além: no coração... que ninguém além de Deus conhece.
(Foto: Cathopic)
O importante é ver se nosso coração busca a Deus ou, melhor, o evita. Apesar de todos os tipos de dúvidas e incertezas, se realmente buscamos a Deus, podemos sempre dizer, do fundo do coração, aquela oração dos discípulos: "Senhor, aumenta a nossa fé." Aquele que ora assim já é um crente.
2 de outubro | 27 Tempo Comum – C (Lucas 17:5-10)
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"A dúvida pode ser o melhor repulsivo para superar o cristianismo convencional". Artigo de José Antonio Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU