28 Setembro 2022
"Apesar de estarem em desenvolvimento tecnologias para abrandar o problema, só há uma solução real: convencer o consumidor a controlar seus impulsos de compra, o que é muito difícil e evidentemente não interessa às empresas do setor, que jogam com isso", escreve Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.
No passado, as roupas eram usadas até que se desfizessem – eram reformadas e remendadas, terminando suas vidas como trapos para limpeza.
Hoje as coisas são diferentes. Em países de alta renda, em particular, roupas são cada vez mais compradas, descartadas e substituídas por novas muito rapidamente, gerando um círculo vicioso que impacta negativamente o meio ambiente; essa indústria gera 10% de toda a poluição, sendo responsável pela emissão de 1,7 bilhões de toneladas de CO2 a cada ano.
Em editorial, a revista Nature informa que em 1995 a indústria têxtil produzia 7,6 quilos de tecido por pessoa, número que quase dobrou para 13,8 quilos em 2018, num ritmo muito maior que o do crescimento da população, que no mesmo período foi de 5,7 bilhões para 7,6 bilhões.
Mais de 60 milhões de toneladas de roupas são produzidas todos os anos, um número que deve aumentar para cerca de 100 milhões de toneladas, até 2030; é praticamente o dobro do que se produzia em 2000, havendo 300 milhões de pessoas empregadas por essa indústria. Cerca de 50 bilhões de peças de vestuário são descartadas até um ano após serem fabricadas, de acordo com dados do governo americano.
Os têxteis se dividem em duas grandes categorias: naturais e sintéticos. A produção dos naturais, feitos de algodão e lã tem crescimento lento, mas a produção dos sintéticos, quase todos derivados de petróleo, cresceu de cerca de 25 milhões de toneladas por ano em 2000 para cerca de 65 milhões de toneladas em 2018. Tudo isso gera um impacto ambiental impressionante.
Esse impacto deriva não apenas dos processos de fabricação, mas também do consumo de água necessário à irrigação de plantações, num total que alguns estimam ser de 200 trilhões de litros ao ano, do uso de pesticidas para o cultivo das fibras naturais, do consumo de petróleo para produção dos sintéticos e dos problemas gerados pela necessidade de disposição das roupas descartadas, pois apenas 1% desse material é reciclado – alguns países mais ricos estão simplesmente repassando o problema para os mais pobres, enviando para estes o que não pretendem mais utilizar.
Apesar de estarem em desenvolvimento tecnologias para abrandar o problema, só há uma solução real: convencer o consumidor a controlar seus impulsos de compra, o que é muito difícil e evidentemente não interessa às empresas do setor, que jogam com isso.
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Roupas são um grave problema ambiental. Artigo de Vivaldo José Breternitz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU