01 Agosto 2022
Faleceu na quarta-feira, 27, aos 82 anos de idade, o escritor e professor emérito do Seminário Teológico Palmer, na Pensilvânia, Ronald James Sider. Ele estava hospitalizado e teve uma parada cardíaca. Desde 2001, tratava de um câncer de bexiga. Ele é considerado o “pioneiro da esquerda” nos Estados Unidos.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Em 1978, Sider fundou o Evangelicals for Social Action, que em 2020 passou a se denominar Christian for Social Action (CSA – Cristãos pela Ação Social), excluindo o termo evangélico. O CSA tem por propósito “combinar estudos bíblicos com análises políticas astutas para promover a justiça econômica, apoiar a interdependência, promover a justiça racial e ecológica, tentar tornar o mundo um lugar melhor”.
Em 1972, o ativista político lançou o movimento Evangélicos por McGovern, candidato democrata que disputava a presidência da república. “Ele tinha fortes convicções e posições racionais, mas tinha um coração mole quando se tratava de se envolver com ideias diferentes das suas. Ele fazia perguntas, sempre era curioso e sempre aprendia, e ouvia com o coração e a mente abertos”, definiu a diretora executiva do CSA, Nikki Toyama-Szeto.
Sider foi um dos promotores da “Declaração sobre a Preocupação Social Evangélica”, de 1973, documento ratificado 20 anos depois na “Declaração de Chigago II”.
O documento de 1973 não endossou nenhuma ideologia política ou partidária, mas atacou “o materialismo de nossa cultura e a má distribuição da riqueza e dos serviços da nação”. Reconheceu o papel crucial que os Estados Unidos desempenha “no desequilíbrio e a injustiça do comércio internacional e do desenvolvimento”.
Por isso, “diante de Deus e de um bilhão de vizinhos famintos, devemos repensar novos valores em relação ao nosso atual padrão de vida e promover uma aquisição e distribuição mais justa dos recursos do mundo”. O documento questionou “a confiança equivocada da nação no poder econômico e militar – uma confiança orgulhosa que promove uma patologia nacional de guerra e violência que vitimiza nossos vizinhos em casa e no exterior”.
No documento de 1973 os signatários choram “sobre a persistência do racismo”, a crescente disparidade entre ricos e pobres, o escândalo da fome, a escalada de violência, desrespeito pela santidade da vida humana e vício em armas que destroem vidas e geram medo. “Em 1973, chamamos os evangélicos ao engajamento social. Esse chamado ainda está de pé”.
No texto, eles avaliam que em 20 anos o engajamento social cresceu, “mas tragicamente nos dividiu com frequência em linhas ideológicas. Muitas vezes o engajamento político evangélico recente tem sido incivilizado e polarizado, tem demonizado oponentes e carece de análise cuidadosa e integridade bíblica. A fidelidade à plena autoridade das Escrituras transcende as categorias tradicionais de esquerda e direita”.
O documento enfatizou que o Evangelho “não está dividido – abrange tanto o chamado à conversão quanto o apelo à justiça. A obediência aos ensinamentos e exemplo de Jesus exige congregações que integrem oração, adoração, evangelismo e transformação social”.
Toyama-Szeto disse, segundo o The Christian Post, que Sider tinha uma “visão convincente de justiça”, que “agitou corações e almas”. Descreveu-o como um pacifista que “nos chamou para buscar a paz com o mesmo fervor daqueles que buscavam a violência”.
Ron Sider nasceu em Erie, Ontário, Canadá, em setembro de 1939. Cresceu e foi criado numa tradição anabatista e wesleyana. Seu pai era agricultor e pastor da Igreja dos Irmãos em Cristo. Doutorou-se em História, pela Universidade de Yale. Ele deixa a esposa, Arbutus Lichti Sider, e três filhos.
O professor e escritor publicou ou editou mais de 30 livros. Em 1977, lançou o seu livro mais conhecido, traduzido ao português sob o título “Cristãos ricos em tempos de fome", que vendeu 400 mil cópias em nove idiomas.
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Evangélicos norte-americanos perdem um líder, autor e ativista social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU