13 Julho 2022
O clima está criando gravíssimos problemas para as plantações, obrigando cada vez mais jovens a emigrar arriscando a vida. A esperança é colocada em muitas iniciativas locais e de cooperação.
A reportagem é de Anna Pozzi, publicada por Avvenire, 12-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Tem jovens que partem sem saber o que os espera. Alguns chegam ao Marrocos e pensam que já estão na Europa. Em vez disso, o pior ainda não começou!”. Um véu de tristeza por um momento obscurece os olhos de Nafy Konaré, que costumam ser luminosos e orgulhosos. Eles expressam toda a teimosia e entusiasmo desta jovem mulher que decidiu fazer um caminho "inverso": o de uma migrante de sucesso na Europa que retornou ao seu país, o Senegal, para investir na agricultura. "Este é o futuro - diz-nos com convicção na sua casa em Thiès, a leste de Dakar - tanto para alimentar este país tão vulnerável do ponto de vista da segurança alimentar, como para travar os fluxos migratórios de muitos jovens que partem com a mera ideia de partir".
Senegal (Foto: Sanjay Rao and CIA World Factbook | Wikimedia Commons)
Eles sonham com o Eldorado e acabam no inferno. Foi o que aconteceu no passado dia 24 de junho perto do enclave espanhol de Melilla, onde morreram 37 pessoas. Mas é também o que acontece continuamente ao longo da rota marítima para as Canárias, um massacre cotidiano e invisível de milhares de jovens africanos que tentam a travessia em frágeis pirogas. Quase 9 mil já desembarcaram em 2022, mas ninguém sabe exatamente quantos não conseguiram. A de Nafy e sua família, que criaram a KonaTrans, empresa de produção, processamento e transporte de produtos alimentícios - incluindo o fonio, um cereal típico da África Ocidental, recentemente redescoberto por suas propriedades nutricionais - é uma das tantas histórias de engajamento que começam por baixo, que se encontram no Senegal.
Mouhamed Diagne, senegalês que reside em Fortaleza (CE) (Foto: Reprodução YouTube | Canal Bem Brasileiro)
Histórias de coragem, esforços e lutas. Para Nafy, como para muitos outros, não se trata apenas - e já é muito - de combater o impacto das alterações climáticas na agricultura e de fazer frente aos demasiados obstáculos e poucos financiamentos: é também uma batalha cultural para mudar uma mentalidade difundida especialmente entre os jovens que consideram o trabalho no campo degradante e preferem partir, aumentando os fluxos migratórios internos - que estão fazendo explodir as periferias cada vez mais amplas e degradadas de cidades como Dakar - e aqueles em direção à Europa.
Ababacar Diouf foi, em certo sentido, um "pioneiro" da migração para a Itália, que cresceu a ponto de fazer da comunidade senegalesa a primeira subsaariana com suas 111 mil presenças.
Diouf chegou à Itália em 1979 para estudar Agricultura em Florença e depois regressar a Dakar. Hoje trabalha como chefe de departamento no Ministério da Agricultura: “Uma das questões que mais nos preocupa - explica - é a gestão da água. A nossa agricultura está intimamente ligada às chuvas cada vez mais irregulares. Há dez anos trabalhamos sobre mudança climática, agricultura e insegurança alimentar. E já várias vezes tivemos de intervir com planos extraordinários”.
Foto: McGahuey from the Site USAID | Wikimedia Commons
Seu ministério, em colaboração com a Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (Aics), lançou em 2021 um importante programa de três anos chamado Piesan na área de Niayes. "Trata-se de um projeto de agricultura ecossustentável - explica Serigne Cissé, conselheiro do ministério pelo Piesan - que visa apoiar os agricultores, especialmente os jovens e as mulheres, para que possam melhorar a produção, o transporte e as vendas e se juntarem em cooperativas para se tornarem mais fortes”. O objetivo é também fornecer instrumentos e competências para lidar com as mudanças climáticas, a salinização da terra e o uso abusivo de pesticidas, mas também criar empregos e promover a proteção ambienta”.
“Estão envolvidos também os jovens que pensavam em emigrar e outros que estão retornando. Aos poucos eles percebem que através da agricultura eles e suas comunidades podem viver melhor”.
Existem também várias ONGs italianas que trabalham nesse âmbito: como Cospe, Lvia e Cisv, que concluíram recentemente o projeto Migra (Migração, Emprego, Jovens, Resiliência, Autoempresa) nas regiões do sul, na fronteira com a Guiné e Guiné-Bissau, envolvendo também os migrantes que regressam, que muitas vezes sofrem o estigma social do fracasso, além dos traumas da viagem.
Essas regiões são potencialmente mais ricas em água do que as do centro e norte, mas também aqui, a par das alterações climáticas, foi sentido o impacto da Covid-19. “Em todos os setores que analisámos - agricultura, pecuária, pesca, mas também área albergueira, artesanato e transportes - notámos como foram afetadas principalmente as empresas de menor porte e menos estruturadas. Tudo isso resultou em uma diminuição significativa das atividades”, explica Anna Meli, responsável pela comunicação da Cospe, em missão nessas terras. Terras com grande potencial, mas também extremamente frágeis, onde se percebe de maneira ainda mais evidente o entrelaçamento de causas e efeitos do clima enlouquecido, mas também de conflitos e instabilidade, de especulações e desigualdades, das repercussões da pandemia e da guerra na Ucrânia, com milhares de toneladas de cereais bloqueadas nos portos, enquanto o alarme da fome e o êxodo forçado das populações crescem no mundo.
Além disso, o Senegal está localizado no limite ocidental daquela vasta região do Sahel evda África Ocidental que hoje está entre as mais ameaçadas do mundo. Este ano, as previsões das agências internacionais são particularmente catastróficas: estima-se, de fato, que entre junho e agosto mais de 38 milhões de pessoas estarão em situação de crise alimentar, com problemas particulares nas áreas afetadas pela crise e pela insegurança. Há também muita preocupação no Senegal. O país - que é um dos poucos estáveis da região - vive semanas de fibrilação política e manifestações às vezes violentas, em vista das eleições legislativas no final de julho. Mas se em Dakar se respira um pouco dessa tensão, nas áreas rurais o olhar é principalmente voltado para o alto para observar o céu em vista das chuvas sazonais tão esperadas.
"Este ano chegaram ao Sul com duas semanas de antecedência - explica o chefe do serviço meteorológico da Força Aérea Senegalesa (Anacim), Diabel Ndiaye - mas em 2020 o governo teve de pôr em prática um plano de emergência de segurança alimentar devido à seca. A situação climática é cada vez mais instável”. O gráfico que nos mostra não deixa dúvidas: desde o início do século passado até os anos noventa, faixas azuis se sucedem regularmente, que gradualmente se alternam com faixas laranja e vermelhas, até se tornarem gradualmente de uma única cor bordô cada vez mais escuro. “O aumento das temperaturas – ele nos conta - é uma evidência. Mas também criam muitos problemas as precipitações e os fenômenos meteorológicos extremos, bem como a salinização e a erosão das terras”.
Sidy Sarr sabe o que tudo isso significa. "São elas que me dão do que viver! – exclama, enquanto nos mostra orgulhosamente seus campos luxuriantes -. No entanto, precisamos nos modernizar. Já não podemos mais contar apenas com as chuvas”. De fato, ele confia no sol. Ao lado de uma tina cheia de água, existe um pequeno sistema solar que faz funcionar a bomba e a irrigação. "A outra grande força está em não ficar isolados." Por exemplo, ele é vice-secretário de uma cooperativa com cerca de cinco mil cooperados:
"O desenvolvimento - diz ele - se faz juntos!".
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Senegal, investir na agricultura para não continuar fugindo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU