01 Julho 2022
"Rejeitamos as abordagens punitivas e de 'combater' os migrantes irregulares na formulação das políticas migratórias e de gestão das fronteiras, não só pela sua ineficácia e elevados custos financeiros, mas sobretudo porque estes se traduzem em mais mortes e escravidão (tráfico), além disso vão contra um sentido elementar de humanidade e contra o espírito de um amplo 'nós' que o Papa Francisco nos chama a desenvolver".
Assim escreve o Arcebispo de Trujillo e Presidente do CELAM, Monsenhor Miguel Cabrejos Vidarte, em nome dos Bispos da América Latina e do Caribe e das organizações envolvidas com os migrantes que formam a Red Clamor, após a descoberta de um caminhão com 50 migrantes mortos em seu interior, muitos menores, vindos da Guatemala, Honduras e México. Os corpos foram descobertos em um veículo abandonado em San Antonio, cidade do Texas a cerca de 240 km da fronteira mexicana, em uma área dos Estados Unidos onde as temperaturas chegam facilmente a mais de 40 graus.
A reportagem é publicada por Agência Fides, 30-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na declaração de 29 de junho, expressa-se consternação pelo ocorrido e solidariedade às famílias dos migrantes falecidos. “Esse fato criminoso, como tantos outros que estão ocorrendo com frequência cada vez mais nas fronteiras dos países desenvolvidos, evidenciam o desespero daqueles que, em busca de um futuro melhor, estão dispostos a colocar suas vidas e a de suas famílias em risco” prossegue a carta, salientando que o endurecimento das políticas migratórias não consegue conter o fluxo dos migrantes e é uma causa direta das mortes e do aumento do tráfico de pessoas.
“A vida de nenhum ser humano pode se tornar uma mercadoria, à qual se dá um preço de mercado, para enriquecer as máfias criminosas, muitas vezes em cumplicidade com os órgãos de segurança de nossos países”, denuncia com veemência a carta. O arcebispo, em seguida, expressa preocupação com o destino dos sobreviventes, especialmente crianças, considerando os precedentes do que está acontecendo com os menores migrantes nos Estados Unidos. O CELAM e a Red Clamor estão, portanto, se dirigindo a todos os países da região, especialmente o governo dos Estados Unidos, para que ampliem as opções de migração regular, para prevenir a morte e o tráfico de seres humanos.
O comunicado faz referência a outro episódio trágico semelhante, ocorrido há poucos dias, sexta-feira, 24 de junho, na Europa, quando grupos de emigrantes subsaarianos tentando fugir da miséria, da fome e das guerras em seus diferentes países e não tendo formas alternativas de entrar Espanha de forma segura e regulamentada, tentaram atravessar a fronteira entre Nador (Marrocos) e Melilla (Espanha).
"A chegada de mais de 1.500 pessoas foi retida pelas forças de segurança do Marrocos e da Espanha, causando um verdadeiro massacre, com mais de 30 mortos", denunciou a Red Clamor em seu comunicado de 28 de junho. As mídias e as redes sociais mostraram "os corpos jogados no chão, alguns vivos e outros mortos, sob o sol, amarrados, recebendo tratamentos cruéis, desumanos e degradantes do exército marroquino". A Red Clamor compartilha o pedido dos bispos espanhóis ao governo para que examine e enfrente essa nova crise no intuito de proteger cada ser humano e estabelecer urgentemente vias de acesso legais e seguras para as pessoas em mobilidade forçada.
A Red Clamor expressa solidariedade às famílias dos irmãos assassinados, pedindo "justiça, verdade, investigações, reparação e não repetição desses eventos sangrentos", além da libertação de migrantes detidos nos CIE (Centros de Identificação e Expulsão) pois "eles são vítimas e como vítimas precisam de ambientes seguros e acompanhamento humano, não de uma prisão". Além disso, pede o repatriamento para os seus países dos corpos dos migrantes mortos. Unindo a sua voz com aquela dos Pastores do continente sul americano e do Caribe, a Red Clamor conclui: "Com o Papa Francisco continuamos apostando na derrubada dos muros e na construção de pontes de solidariedade, para combater a cultura do descarte, para tornar possível a amizade social e a fraternidade dos filhos e das filhas de Deus, sem excluir ninguém, independentemente da cor da pele, da nacionalidade ou do status migratório".
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Os Bispos após os massacres de Melilla e San Antonio: é ineficaz o endurecimento das políticas migratórias, ampliar as possibilidades de migração regular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU