A demolida “Pastor Bonus” dá lugar à “Praedicate Evangelium”. O seu sucesso dependerá do tempo e sobretudo da qualidade dos homens que a terão que aplicar

Barrete cardinalício (Fonte: Vatican News))

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03 Junho 2022

 

Enquanto isso aguardam na oficina das reformas aquela do Código de Direito Canônico e as normas necessárias no caso de uma sede vacante por renúncia do Bispo de Roma.

 

A reportagem é publicada por Il Sismógrafo, 02-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Domingo de Pentecostes, 5 de junho de 2022, depois de quase 36 anos, se aposenta a “Pastor Bonus”, Constituição Apostólica do Papa João Paulo II sobre a Cúria Romana, e entra em vigor em pleno regime a nova, a Praedicate Evangelium, concebida e elaborada ao longo de oito anos. As novidades substanciais do documento são os Dicastérios, alguns absolutamente novos, outros com estruturas e funções já antecipadas nas obras dos históricos Conselhos Pontifícios e antigas Congregações.

 

Mas pelo que disse o Papa, alguns de seus consultores e vários cardeais próximos aos trabalhos do Conselho dos 7, essas estruturas não são a questão central e relevante, mas o espírito, o processo de reforma que se inicia, o sentido do serviço curial, o método, o ambiente e o estilo da sinodalidade, verdadeira alma da evangelização, a razão pela qual a Igreja existe.

 

Há obviamente outras inovações como o enxugamento da Secretaria de Estado ou a codificação dos órgãos econômicos, mas tudo fica suspenso no aguardo do juízo dos fatos e do tempo. Neste momento, muitas coisas positivas podem ser ressaltadas sobre essa Constituição, bem como outras, não poucas, negativas. A partir de domingo entramos numa espécie de período "ad experimentum".

 

Assim, por alguns anos, três ou quatro, tudo será posto à prova dos fatos. Os próximos anos darão um veredicto sobre o sucesso ou fracasso das reformas e do dinamismo pastoral que deveriam ser iniciados segundo o desejo do Papa.

 

Determinante nesse período serão as pessoas que o Pontífice nomeará na condução desses organismos curiais, em especial os Dicastérios de criação recente. Pode-se dizer com plausível certeza que essa reforma, na qual o Papa aposta alto, jogará seu sucesso ou fracasso sobretudo na qualidade e competência de cada indivíduo responsável. De muitos quadrantes, mesmo de círculos próximos ao Pontífice, a grande importância das próximas "nomeações" já vem sendo ressaltada há algum tempo, a ponto de parecer decisiva para o pontificado. Um deles, o cardeal coordenador do C7, Oscar Rodríguez Maradiaga, há três meses insiste em atribuir importância decisiva às nomeações e à competência dos futuros nomeados.

 

No caso de um documento dessa natureza, palavras laudatórias ou críticas, independentemente, clichês e campanhas midiáticas a favor ou contra, não apenas são inúteis, mas também contraproducentes. Só poderão falar os fatos derivados das reformas que, em essência, serão no fim avaliados no complexo da missão evangelizadora. É esta evangelização que realmente importa a ponto de já se pode dizer: se estas reformas ajudarem a missão do anúncio e fizerem crescer a presença do cristianismo no mundo de hoje, será um sucesso. Por outro lado, se nada mudar e tudo o que a Igreja se critica hoje a si mesma permanecer como antes, será um fracasso.

 

A Praedicate Evangelium permanece sempre fundamental, mesmo nesta fase inicial. Após 9 anos de grande e arbitrária instabilidade, chega como um trilho estável, certo e seguro, uma lei fundamental urgente e necessária. Sua ausência, enquanto a Constituição anterior, a Pastor Bonus, estava sendo demolida, criou desorientação, confusão e perplexidade.

 

A conclusão deste longo, complexo e delicado trabalho do Conselho dos Cardeais cria as condições para avançar ao abordar outras questões igualmente centrais e urgentes: a reforma do Código de Direito Canônico e a estruturação das normas a serem aplicadas no caso de sede vacante por renúncia do Bispo de Roma. O cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga disse ao Vatican News semanas atrás, ilustrando um seu recente livro sobre as reformas do Papa Francisco, que é hora de "normatizar" a questão da renúncia de um papa, bem como iniciar a "revisão de todo o Código de Direito Canônico". (Vatican News - 6 de maio de 2022).

 

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