01 Junho 2022
Na Sala Paulo VI, em 23 de maio de 2022, os bispos italianos encontraram-se com o Santo Padre Francisco por ocasião da abertura da a septuagésima sexta Assembleia Plenária, que se realizou em Roma, no Hilton Rome Airport, de 23 a 27 de maio de 2022 sobre o tema: "Na escuta das narrativas do Povo de Deus. O primeiro discernimento: que prioridades estão aparecendo para o Caminho Sinodal?". Os bispos passaram cerca de duas horas com o Papa e a conversa nem sempre foi tranquila.
A reportagem é publicada por Silere non possum, 31-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Francisco, desde os primeiros momentos de seu pontificado, não demonstrou apreciar muito os bispos italianos. Ele chegou a dizer ao Corriere della Sera: “Muitas vezes encontrei uma mentalidade pré-conciliar que se disfarçava de conciliar. […] Na Itália talvez seja mais difícil. Mas há bons padres, bons párocos, boas freiras, bons leigos”. Bem, sim, alguns bons padres nós também os temos Santidade! Nos outros países eles são certamente mais santos - nós vimos, não é verdade? - mas nós também estamos nos virando.
Bergoglio ainda acrescentou: "Por exemplo, uma das coisas que tento fazer para renovar a Igreja italiana é não mudar muito os bispos". Se o Papa diz isso, os fatos mostram outra coisa. Francisco nos últimos anos revolucionou a Igreja italiana e realmente houve muitos novos bispos. Será que o Papa percebeu?
Durante o encontro de 23 de maio, Sua Excelência Rev.ma Mons. Derio Olivero, Bispo de Pinerolo, perguntou ao Santo Padre por que não foi a Florença para o encontro dos prefeitos e dos bispos do Mediterrâneo ao qual Francisco havia planejado participar em 27 de fevereiro de 2022.
O Papa respondeu dizendo que, em primeiro lugar, foi aconselhado pelo médico a desistir da celebração da Quarta-feira de Cinzas, 22 de fevereiro de 2022, e também àquela curta viagem porque o joelho lhe “causava problemas” e “era o momento mais agudo da dor”. Em seguida, acrescentou que foi lembrado que no encontro estavam presentes pessoas, entre as quais Marco Minniti (político italiano, ex-ministro italiano do Interior, entre outros cargos), envolvidas na indústria das armas e, portanto, "era melhor que o Papa não participasse".
Neste momento, interveio o Arcebispo de Florença, Sua Eminência Rev.ma Cardeal Giuseppe Betori, que disse ao Papa: “Santo Padre, o senhor foi mal informado porque estavam acontecendo dois encontros. Havia o encontro dos bispos e o encontro dos prefeitos organizado pelo prefeito Nardella. Só nos reunimos mais tarde, no último dia”.
Francisco então retrucou: "Não, não, você pode continuar dizendo o que quiser, mas me disseram que estavam presentes esses senhores e eu vi os vídeos desses convidados, e também estava Minniti".
O Cardeal Betori continuou a dizer ao Papa que não era o mesmo encontro, mas o Papa concluiu dizendo: “Não, não, eu vi. Depois me mostraram que quando estavam no ministério as leis que fizeram, são criminosos de guerra e eu também vi os campos de concentração na Líbia onde mantinham essas pessoas que eles mandam de volta!”.
Entre os bispos caiu o gelo. O Papa Francisco não só não apareceu naquele domingo em Florença, como nem sequer enviou o cardeal Pietro Parolin, como havia sido previsto e não saudou os bispos italianos nem durante o Angelus.
Nas conversas, Francisco também voltou sobre a reforma do processo canônico para as causas de declaração de nulidade do casamento. Em 2021, o Papa também emanou um Motu Proprio com o qual instituiu uma comissão para verificar a “aplicação plena” da reforma do processo matrimonial na Itália. Alguns bispos corajosos levantaram perplexidades e/ou dificuldades em relação a alguns casos e por isso Francisco contou uma anedota. Falou de um bispo que lhe havia falado sobre algumas objeções levantadas pelo tribunal eclesiástico de sua diocese sobre a dissolução de um matrimônio. O Papa contou que respondeu ao bispo perguntando-lhe: "O senhor tem uma caneta em sua mesa?". Francisco explicou que o bispo pode exercer seu poder sem muitos escrúpulos em relação às questões de direito.
Esse desprezo pelo direito por parte de Francisco preocupa muito, não só os canonistas, mas deve assustar qualquer fiel. Inclusive no Estado da Cidade do Vaticano, onde ele é soberano absoluto, Bergoglio mostrou que faz o que acredita sem se preocupar muito com as normas e com os direitos fundamentais do ser humano. Este modus agendi colide bastante com a missão que o Papa tem e com os princípios cardeais do direito canônico.
O direito não pode ser visto como um lastro, mas sim como proteção, e da vítima, e do acusado. O Cardeal Matteo Maria Zuppi também lembrou isso no final da Plenária a respeito dos abusos de menores e da função do direito canônico.
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O Papa à Conferência Episcopal Italiana – CEI: por isso não vim a Florença - Instituto Humanitas Unisinos - IHU