30 Mai 2022
"É um adeus altamente simbólico, amadurecido em uma Igreja já dilacerada por um cisma interno que se intensificou nestes meses de guerra", escreve Paolo Brera em artigo publicado por La Repubblica e traduzido por Luisa Rabolini, 28-05-2022.
A sorte está lançada: após meses de constrangimento e fuga de fiéis, ontem a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou se despediu de Kirill e proclamou a independência. Rica em paróquias, mas cada vez mais pobre em consenso, a costela ucraniana da Igreja de Moscou, em suma, a Igreja dos pró-russos ucranianos, reuniu-se em um sínodo difícil e doloroso decretando o adeus ao Kremlin e à sua guerra sangrenta.
É um adeus altamente simbólico, amadurecido em uma Igreja já dilacerada por um cisma interno que se intensificou nestes meses de guerra. Uma Igreja ucraniana desligada de Moscou já existia: é a "Igreja Ortodoxa da Ucrânia", uma Igreja autocéfala nascida em 2018. Epifânio, seu patriarca, recebeu formalmente o tomos de autocefalia do patriarca de Constantinopla, e não reconhece autoridade sobre si. Mas sua Igreja representa os ucranianos que olham para o Ocidente, não aqueles que ainda estão culturalmente ligados à Rússia, um povo que até poucos anos atrás representava a maioria do país. Nesta Ucrânia dividida entre dois mundos em conflito, no entanto, poucos anos são uma era. À medida que os partidos pró-Rússia secaram seus consensos a partir de 2014, também a Igreja Ucraniana do Patriarcado de Moscou foi se adelgando após o cisma, e corria o risco de desaparecer. Para celebrar a missa, seus padres tinham inclusive que comemorar - como sempre acontece na liturgia ortodoxa - o patriarca de Moscou Kirill, que é um fervoroso defensor da invasão russa da Ucrânia. Um paradoxo cada vez mais inaceitável, entre as bombas e o sangue do avanço russo. Muitos se recusaram a fazê-lo, a situação era levada adiante, mas de forma cada vez mais difícil.
"Expressamos nosso desacordo com a posição do Patriarca Kirill, de Moscou e toda a Rússia em relação à guerra na Ucrânia", disse ontem o Conselho cruzando seu rubicão e proclamando "a independência completa". Em teoria, agora a Igreja cismática do Patriarca Onofrio, que lidera a costela ucraniana que se afastou do patriarcado de Moscou, deveria confluir para a Igreja Ortodoxa da Ucrânia de Epifânio, mas os assuntos do homem são sempre mais complicados do que a lógica deixaria supor. E assim o Conselho reunido ontem imediatamente se posicionou, e haverá difíceis nós canônicos a desatar.
Enquanto isso, Moscou perdeu completamente seu púlpito para os fiéis ucranianos. Um púlpito que poderia contar com doze mil igrejas espalhadas especialmente no leste do país, um patrimônio que, no entanto, estava se esvaindo com seu patriarca pró-russo Onofrio que não se distanciava da agressão militar e não denunciava os massacres provocados pela invasão. Agora o Conselho o escreveu entre os primeiros pontos: "Para que haja diálogo" para uma reunificação, os representantes da Igreja ucraniana de Epifânio devem "deter o confisco de igrejas e as transferências forçadas das paróquias"; em suma, chega de roubos, dizem eles, mas aqueles não eram roubos: era a fuga legítima de uma Igreja que durante três meses permaneceu ligada a Moscou enquanto milhares de ucranianos morriam sob as bombas.
Enquanto isso, em Moscou, não aceitaram muito bem a resolução. “Como a Igreja Ortodoxa Russa não recebeu nenhum apelo da Igreja Ortodoxa Ucraniana", diz o presidente do departamento sinodal, Volodymyr Legoyda, "não podemos responder às informações recebidas pela imprensa".
"Rezamos pela conservação da unidade, por uma paz rápida e pelo fim do derramamento de sangue."
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A Igreja Russa da Ucrânia corta relações com Kirill - Instituto Humanitas Unisinos - IHU