26 Mai 2022
"O Cardeal Zuppi não poderá fazer milagres, mas depois de quase 40 anos, após a convenção de Loreto, pode ser um novo começo para a CEI”, é a consideração do professor Alberto Melloni, docente de História do Cristianismo e das Igrejas da Universidade de Modena e Reggio Emilia e historiador da Igreja.
A entrevista é de Micaela Romagnoli, publicada por Corriere di Bologna, 25-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Uma nomeação previsível?
O Papa queria o homem com o maior consenso entre os bispos e não me surpreende que tenha sido o cardeal Zuppi.
Por que você não se surpreende?
Acredito que Bolonha saiba o porquê. Em Bolonha, se você pedir a quem recebeu favoritismos de Zuppi para se reunir na Piazza Maggiore, a praça ficará deserta. Ao mesmo tempo, se todos aqueles que foram prejudicados por Zuppi forem chamados à Piazza Maggiore, a praça também permanecerá deserta. Zuppi é um homem sem favoritismo e sem rancores. Bolonha entendeu isso muito bem. Esta é a razão de sua autoridade.
O que significa esta nomeação para a Igreja de Bolonha?
Acredito que signifique algo importante, porque Zuppi deu muito a Bolonha e Bolonha muito a ele. Deu-lhe a oportunidade de revelar suas características espirituais de cristão. Algo que outras dioceses não teriam oferecido, o teriam sobrecarregado com minúcias e problemas.
Então Bolonha foi boa para isso?
Sim, fez o seu trabalho. Bolonha faz isso com os bispos, faz com que se expressasse a verdade de seus espíritos, de modo que fez sobressair a timidez de Caffarra, a impetuosidade de Biffi, a santidade de Lercaro; sempre fez esse trabalho e o fez novamente desta vez: mostrou-se o homem em quem se pode confiar, os bispos podem confiar, o Papa pode confiar.
Como acredita que a CEI liderada por Zuppi poderá mudar?
Sua tarefa é começar a dar um sinal. A CEI teve um reinado ‘ruiniano’ muito longo, em que o presidente coincidia com a CEI, depois foram quatro mandatos de 2007 até hoje, com o Cardeal Bagnasco e o Cardeal Bassetti, que tiveram que representar uma decantação daquela fase. Ainda hoje a Igreja italiana luta para encontrar sua própria voz.
O que se espera dele?
Foi escolhido porque a Igreja italiana e o episcopado italiano precisam muito de unidade. Agora será preciso encontrar um caminho para iniciar o processo sinodal, que seja sério, um sínodo que não seja apenas a multiplicação das reuniões; é preciso situar-se num país que emerge atordoado pela sequência de acontecimentos que o arrastaram nos últimos quinze anos, uma crise econômica como nunca havia se visto, uma pandemia como nunca havia se visto, uma crise energética, a guerra.
Tantos desafios...
Sim, mas parece-me que Bolonha seja a que mais pode tranquilizar o resto da Itália. Aqui Zuppi provou ser a pessoa que é e a cidade o seguiu. Sua ideia de tocar os sinos para rezar o terço às 19h durante o lockdown, uma iniciativa sem precedentes e inédita, foi extraordinariamente profunda e bela, tocou a todos; uma experiência que produziu grande coesão social, e o fez com o que há de mais tradicional e cristão que existe, a oração. Zuppi, que é um homem sábio, com experiência internacional, pode dar uma contribuição a esse desafortunado país.
As prioridades?
Acredito que a primeira seja evitar ser devorado pela egolatria que cerca a política e ele não irá cair nisso. ‘Agora eu cuido disso’ não é o estilo de Zuppi. Ele terá que alinhavar uma agenda compartilhada. Existe o estilo Zuppi, vimos isso em Bolonha. Acho que poderia levá-lo para a CEI.
Como é esse estilo?
Cristão, estamos tão desacostumados a ver o estilo cristão. Só vemos democratas-cristãos ou ex-católicos, o estilo cristão é o dele.
Esta nomeação terá um impacto nas pessoas?
Sim, o terá. Zuppi tem uma capacidade comunicativa muito forte, um conteúdo muito penetrante, perspicaz, todos o verão e acredito que desta vez os bispos escolheram muito bem.
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“Ele levará seu estilo para a Conferência Episcopal Italiana – CEI. A Igreja precisa de unidade”. Entrevista com Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU