É preciso mudar o olhar sobre a globalização. Duas economistas em Davos confirmam que os ventos mudaram

Kristalina Georgieva (à esquerda) e Gita Gopinath (à direita). Fotos: EU Civil Protection and Humanitarian Aid e International Monetary Fund | Flickr creative commons.

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

25 Mai 2022

 

O apelo que chegou a Davos por duas economistas que dirigem o Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva e Gita Gopinath, confirma que os ventos mudaram. O FMI parte da premissa de que a globalização dos últimos trinta anos elevou o padrão de vida e tirou 1,3 bilhão de pessoas da extrema pobreza, mas ao mesmo tempo faz severas críticas: "Nos últimos anos, as desigualdades de renda, riqueza e oportunidades continuaram a piorar dentro de muitos países e entre as várias nações".

 

A tese de Georgieva e Gopinath é que devemos escapar da “fragmentação geoeconômica da globalização” que se prospecta no horizonte, porque teria custos enormes para todas as faixas sociais e para todos os países. O FMI sugere corrigir o sistema das 'cadeias de suprimentos' introduzindo uma maior diversificação dos suprimentos; insiste na dívida dos países mais pobres; no reforço do sistema de pagamentos transfronteiriços; sobre a luta contra as alterações climáticas. Georgieva e Gopinath estabelecem uma condição final para que a globalização possa ser reformada: "Todos devemos aderir a um princípio orientador simples: as políticas são para as pessoas e, em vez de globalizar os lucros, devemos localizar os benefícios".

 

A reportagem é de Roberto Petrini, publicada por Avvenire, 24-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Os ventos mudaram, como demonstra a cooperação internacional com a vacina e o acordo entre 137 países para garantir que as multinacionais paguem os impostos corretos onde quer que operem. Claro que é difícil apelar para valores positivos enquanto os tanques atravessam as planícies da Europa, mas Draghi fez bem em lembrar aos estudantes de Sommacampagna que "não devemos olhar para o futuro com ansiedade e preocupação" mas devemos "nos apoderar dele e tornarmo-nos protagonistas".

 

Significa também trocar para um novo par de óculos inclusive nas relações com a Europa. As Recomendações da Comissão Europeia de ontem aos Estados-Membros não esquecem déficit e dívida, mas, de forma realista, parecem pressagiar que o "vínculo entupido" está destinado ao arquivo.

 

O Covid e a guerra levaram ao anúncio de uma nova desativação do Pacto de Estabilidade para 2023; o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, mantém-se na linha do rigor, mas evoca regras "mais realistas e eficazes" para a reforma dos mecanismos europeus de controle das finanças públicas. Não é por acaso que ontem a Comissão nas suas recomendações à Itália se concentrou sabiamente nas despesas correntes e na sua "qualidade". Um objetivo vago sem metas numéricas já definido em março passado pelas "Orientações para a política orçamental para 2023" que, na pendência do novo Pacto de Estabilidade, inspirará o próximo "Financeiro" e permitirá uma "postura fiscal" com um certo grau de dose de oxigênio.

 

É claro que não estamos diante de um "retorno aos gastos ilimitados", como observou ontem o Comissário Europeu para a Economia, Paolo Gentiloni. E é verdade que devemos ser "prudentes": spreads e gastos com juros, em tempo de taxas internacionais crescentes, podem nos prejudicar, a desaceleração do PIB e das receitas pesa muito, e não é irrelevante a necessidade de sustentar as rendas diante do aumento da energia e da inflação.

 

Mas Bruxelas, embora uma margem externa possa sempre servir, já não fala mais a linguagem da austeridade dos tempos da Grécia, não há "cartões vermelhos" no horizonte. Pelo contrário, abraça fortemente a causa da equidade fiscal, lembrando a necessidade de uma revisão do cadastro embora não seja condição para a liberação de fundos do Pnrr.

 

Defende a redução da carga tributária, já iniciada com a última lei orçamentária, acompanhada do subsídio único e da redução do imposto de renda das pessoas físicas. As Recomendações levantam a cabeça acima dos parâmetros e convidam a Itália a diversificar sua reserva de energia, aumentar as energias renováveis e introduzir mais concorrência na contratação de serviços públicos a partir da água e dos transportes. Afinal, as Recomendações pós-Covid também são filhas do Next Generation EU: mais de 700 bilhões parcialmente financiados com títulos europeus com um salto para a unificação e desenvolvimento que não se via há tempo.

 

Leia mais