18 Abril 2022
"As “novas” famílias que se formaram em consequência da pandemia enfrentam também o desafio de ter de reorganizar profundamente os seus ritmos quotidianos para garantir às crianças e aos jovens as devidas presenças ao seu lado. Para os avós, trata-se de ter que lidar com o luto pela perda de um filho ou filha que se junta ao dos netos pela morte dos pais – todos na mesma casa ao mesmo tempo", escreve o teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 14-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma pesquisa do Imperial College London estimou que nos Estados Unidos existem cerca de 200.000 crianças e adolescentes que perderam um ou ambos os pais, ou a pessoa de referência, devido à pandemia. Particularmente afetadas são as camadas mais pobres da população estadunidense, especialmente os afro-americanos e hispânicos.
A sociedade estadunidense está administrando essa condição principalmente graças às famílias alargadas, com um papel decisivo desempenhado pelos avós das crianças. Além da elaboração do trauma da perda das figuras parentais sem a possibilidade de se despedir delas ou ao menos poder vê-las antes de sua morte, a nova organização familiar também envolve uma mudança profunda na relação entre avós e netos.
Se antes os avós podiam desempenhar um papel de cumplicidade indulgente com os netos, agora eles se veem na necessidade de construir um novo perfil da relação que assume também as funções próprias da figura parental.
No país, em nível local, há um bom número de programas sociais que acompanham essa nova configuração de famílias alargadas. E em muitas escolas, pessoas de referência e grupos de pares devidamente treinados foram disponibilizados para alunos que perderam seus pais devido ao Covid.
As “novas” famílias que se formaram em consequência da pandemia enfrentam também o desafio de ter de reorganizar profundamente os seus ritmos quotidianos para garantir às crianças e aos jovens as devidas presenças ao seu lado. Para os avós, trata-se de ter que lidar com o luto pela perda de um filho ou filha que se junta ao dos netos pela morte dos pais – todos na mesma casa ao mesmo tempo.
Com uma mudança radical também no que diz respeito ao horizonte futuro e às decisões tomadas sobre como passar a porção de vida que ainda está pela frente. Às vezes um compromisso pesado, mas que não tira uma sensação de bênção pela entrada repentina e dramática, em suas casas, dos netos e das suas exigências.
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EUA: órfãos Covid. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU