11 Abril 2022
“A Semana Santa é um momento em que a comunidade cristã compartilha a dor de Cristo na cruz, sua traição e abandono. Cristo está sendo crucificado novamente na Ucrânia. As Escrituras não nos dão palavras para explicar a dor e a morte; antes, eles nos dão o Filho de Deus que está disposto a descer às trincheiras e sofrer e morrer conosco. Em vez de nos encorajar do lado de fora, ele entra na luta e leva socos junto com a gente. A culminação destes próximos dias não é a cruz; é a Ressurreição. Além da dor, há esperança”, escreve o jesuíta estadunidense Thomas Reese, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 11-04-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
À convite do meu irmão jesuíta Chris Smith, eu recentemente assisti a uma missa no Santuário Nacional Sagrada Família da Igreja Católica Ucraniana, em Washington D.C.. Chris é um jovem, professor de múltiplos talentos na Gonzaga High School, que desenvolveu um amor pelos ucranianos e sua liturgia quando na faculdade. Ele passou um ano dando aulas de inglês na Ucrânia.
Ele sabia do meu interesse na Ucrânia porque eu tinha compartilhado com ele minha experiência de ajudar em um seminário para bispos ucranianos logo depois da queda da cortina de ferro e minha visita à Ucrânia como diretor da Comissão Internacional dos EUA sobre Liberdade Religiosa. Seu convite era minha chance de expressar solidariedade com o povo ucraniano acompanhado por alguém que poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo.
Com as nossas roupas clericais pretas, nos destacávamos na igreja. Eu, um velho baixinho e branco lutando para saber em que páginas estávamos, e Chris, um jovem alto e negro se esforçando para cantar as respostas em ucraniano.
Duas coisas me marcaram sobre a liturgia:
Primeiro, o constante envolvimento da assembleia em cantar respostas durante a liturgia. Eu desejo que a liturgia romana envolva a assembleia dessa forma.
Segundo, a música, que parecia uma estranha mistura de dor e esperança. Isso expressava lindamente a situação do povo ucraniano no momento, embora isso venha de séculos de experiência e oração. Essa foi a música e oração das pessoas que têm sofrido perseguição, guerra, doenças e morte, mas ainda se reúnem para rezar e esperançam por uma vida melhor, aqui ou no mundo que vem.
Que a perseguição, guerra e fome ainda existam no século XXI é uma tragédia além das lágrimas. O Papa Francisco condenou recentemente a guerra na Ucrânia como “agressividade infantil e destrutiva”, obra de “algum autocrata, tristemente seduzido por reivindicações anacrônicas de interesses nacionalistas”.
As pessoas comuns, por outro lado, “sentem a necessidade de construir um futuro que será compartilhado ou não será”, disse o papa.
O século XX desenvolveu a tecnologia para acabar com a pobreza, a fome e limitar o impacto das doenças, mas também desenvolveu a tecnologia para destruir e matar em grande escala. Muitas vezes, o mundo escolheu a tecnologia da morte em vez da vida. A guerra e a fome continuaram; doenças tratáveis ainda matam. Nossa tecnologia está envenenando a Terra e aquecendo-a a um ponto sem retorno.
Como a liturgia ucraniana, o mundo precisa cantar uma canção de dor e esperança.
Isto é especialmente verdadeiro quando nos aproximamos da Semana Santa e da Páscoa.
A Semana Santa é um momento em que a comunidade cristã compartilha a dor de Cristo na cruz, sua traição e abandono. Cristo está sendo crucificado novamente na Ucrânia.
As Escrituras não nos dão palavras para explicar a dor e a morte; antes, eles nos dão o Filho de Deus que está disposto a descer às trincheiras e sofrer e morrer conosco. Em vez de nos encorajar do lado de fora, ele entra na luta e leva socos junto com a gente.
A culminação destes próximos dias não é a cruz; é a Ressurreição. Além da dor há esperança. Esperança em Cristo; esperança no Espírito que pode transformar corações e inspirar obras de paz, justiça e amor.
Mir vcim. A paz esteja com todos.
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Semana Santa da dor, Páscoa da esperança na Ucrânia. Artigo de Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU