11 Abril 2022
Dallari foi professor emérito da Faculdade de Direito da USP, onde se formou e cumpriu longa trajetória acadêmica até chegar ao cargo de diretor; intelectual teve destacada posição na resistência democrática durante o regime militar brasileiro.
A reportagem foi publicada por Jornal da USP, 08-04-2022.
Morreu nesta sexta, dia 8 de abril, aos 90 anos, Dalmo de Abreu Dallari, um dos maiores juristas brasileiros. Ele foi professor emérito da Faculdade de Direito (FD) da USP, onde se formou e cumpriu longa trajetória acadêmica até chegar ao cargo de diretor. Ele deixa esposa, 7 filhos, 13 netos e 2 bisnetos e várias gerações de alunos e seguidores, aos quais se dedicou em mais de 60 anos de magistério e atuação na promoção dos direitos humanos.
“O Brasil perde um de seus principais expoentes e, a USP, uma figura ímpar que ajudou a forjar esta Universidade com sua dedicação na gestão universitária e na formação de gerações de profissionais na área de Direito. Neste momento de consternação, a Reitoria se solidariza com os familiares e a comunidade acadêmica da Faculdade de Direito”, lamenta o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.
Para o diretor da Faculdade de Direito (FD), Celso Fernandes Campilongo, a Faculdade perde parte de sua história. “Perdemos um grande amigo. Dalmo sempre se dedicou a fazer o bem. Um defensor dos direitos humanos. Ele dizia, constantemente, que a construção desses direitos deveria iniciar desde cedo. Somente assim as pessoas poderiam ter consciência do que é ser solidário e fraterno”, considera.
Floriano de Azevedo Marques Neto, ex-diretor da FD (2018/2022), ressalta o significado do professor Dallari para a história do País. “Perdemos hoje mais do que um professor sênior querido por todos e todas. A Faculdade perdeu um líder e um formador de gerações de docentes e discentes. O país perde um expoente da Democracia. Eu, pessoalmente, perco meu orientador, um amigo e uma referência em tudo que fiz e faço na minha vida. Alenta-nos o fato de que a partida do professor Dalmo Dallari não apaga o lugar histórico que ele tem e seguirá tendo nas Arcadas e na cena nacional”, diz.
Orientando de Dallari na pós-graduação, o ministro do STF Alexandre de Moraes, lamentou a perda em sua conta no Twitter. “A Democracia e os Direitos Fundamentais perderam hoje um de seus maiores defensores. Com inteligência, coragem e sabedoria, Dalmo Dallari foi um exemplo para gerações de professores e estudantes. Tive a honra de ser seu aluno e orientando na USP. Meus sentimentos à sua família”, ressaltou.
Nascido em Serra Negra, no estado de São Paulo, em 31 de dezembro de 1931, Dalmo Dallari se transferiu com a família para a capital aos 16 anos. Ingressou na Faculdade de Direito da USP em 1953, concluindo o curso de Direito em 1957. Em 1963 concorreu à livre-docência em Teoria Geral do Estado e, aprovado, passou a integrar o corpo docente da FD em 1964.
Após o golpe militar e a instalação da ditadura, passou a ter destacada posição na resistência democrática e na oposição ao regime que se estabelecia. A partir de 1972, ajudou a organizar a Comissão Pontifícia de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, ativa na defesa dos Direitos Humanos.
No ano de 1974, passou a ministrar aulas no curso de pós-graduação da FD como professor titular de Teoria Geral do Estado. Em 1986, foi escolhido para ser diretor, permanecendo até o ano de 1990. Na sua gestão foi iniciada a construção do prédio anexo da Faculdade.
De agosto de 1990 a dezembro de 1992 foi secretário dos Negócios Jurídicos da Prefeitura do Município de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina. Possui vários artigos publicados em jornais e revistas especializadas, além de ter atuado como colaborador do jornal Folha de S. Paulo.
É pai dos professores da USP, Maria Paula Dallari Bucci (FD) e Pedro Dallari (diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP), frutos de seu primeiro casamento. Atualmente, estava casado com Sueli Dallari, que foi professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e também formada na São Francisco.
Dalmo Dallari esteve no IHU, em 2013, participando do ciclo de estudos Constituição 25 Anos: República, Democracia e Cidadania. Na ocasião ministrou a conferência “Constituição e Constituinte: limites, avanços, golpes e resistências”.
Em 2016, Dallari concedeu a entrevista Coragem: a atitude fundamental recomendada por Dom Paulo Evaristo Arns, em que fez memória à história do Cardeal Arns.
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Um dos maiores juristas brasileiros, Dalmo de Abreu Dallari morre aos 90 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU