08 Abril 2022
Para os sacerdotes, visita do presidente Bolsonaro aos espaços católicos é eleitoreira. “Sabemos que ele é qualquer coisa, menos cristão”, afirmam em nota pública divulgada nesta quarta-feira, 6.
A reportagem é de Marcelo Menna Barreto, publicada por ExtraClasse, 07-04-2022.
(Foto: Alan Santos | PR)
Ligados aos movimentos Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo, mais de 400 sacerdotes e bispos católicos se manifestaram em nota pública, divulgada nesta quarta-feira, 6, ao que chamam de uma atitude “eleitoreira” do presidente Jair Bolsonaro. Na segunda-feira, 4, Bolsonaro visitou o Santuário do Cristo Redentor na cidade do Rio de Janeiro para acompanhar a assinatura dos termos de um protocolo de intenções e de um acordo de convivência entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Fortes críticas também foram endereçadas ao arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, cardeal Dom Orani Tempesta. “Não é possível conceber um bispo com ‘cheiro das ovelhas’ ao lado do lobo”, destacaram. A comparação feita pelos movimentos é a lembrança da manifestação do Papa Francisco aos bispos e presbíteros em 2013, ano de sua eleição. “Sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas”, disse na ocasião Francisco em um forte direcionamento do seu pontificado.
A crítica pública a um alto dignitário da Igreja por integrantes do próprio clero católico é algo muito raro. Os Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo foram mais longe. Pedem que Dom Orani peça desculpas públicas “a Deus e as suas ovelhas”. Eles consideram a presença do atual presidente um motivo de escândalo.
“O senhor presidente da República despreza o maior dom de Deus: a vida, como mostrou inúmeras vezes durante a pandemia de covid-19. Ele desrespeita o meio ambiente e os habitantes originários de nossas terras, é racista, misógino e homofóbico e não esconde sua aversão aos pobres, aquelas e aqueles que sempre foram centrais para Jesus, o Redentor”, explicam.
O documento ainda alerta para outro “claro aceno eleitoreiro” do presidente. Bolsonaro participará no próximo sábado, 9, de uma missa no Santuário de São Miguel Arcanjo na cidade paranaense de Bandeirantes.
Em outubro do ano passado, o presidente também foi questionado por ter proferido leituras no dia da padroeira do Brasil, em Aparecida do Norte. Na época, os religiosos o acusaram de ter profanado o santuário.
“Novamente, sua presença em um templo católico causa indignação porque bem sabemos que ele é qualquer coisa menos cristão. Seus atos e seu ódio constantemente dirigidos contra tudo e contra todos estão muito longe da bondade e da misericórdia de Jesus de Nazaré. Mas nossa indignação é novamente maior com aqueles que estão à frente do Santuário e deveriam ter ‘cheiro de ovelhas’”, diz firme os Padres da Caminhada e os Padres Contra o Fascismo.
Padres da caminhada e Padres contra o fascismo
“O mercenário, que não é pastor [...],
vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge” (Jo 10, 12)
Mais uma vez, expressamos nossa indignação com a presença do Sr. Presidente da República em um templo católico: no dia 04 de abril, acompanhado por diversas autoridades, visitou o Santuário do Cristo Redentor na cidade do Rio de Janeiro para acompanhar a assinatura dos termos de um protocolo de intenções e de um acordo de convivência entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Ainda insistindo em ser reconhecido como “católico”, o Sr. Jair Messias Bolsonaro declarou: “Um protocolo de grande simbolismo para nós, católicos de todo o Brasil. Um governo que acredita em Deus e defende a família. A fé que nos elegeu, nos salvou no passado. Sem a fé, como resistiríamos com tantas adversidades, com grande parte da imprensa contra nós”.
Essa declaração é extremamente vergonhosa! Como tantas vezes, o que ele disse aos pés da estátua do Redentor é um deboche: como ele ainda pode se dizer católico? Ou melhor, como ele ainda pode querer ser reconhecido como cristão? O Sr. Presidente da República despreza o maior dom de Deus: a vida, como mostrou inúmeras vezes durante a pandemia de COVID-19. Ele desrespeita o meio ambiente e os habitantes originários de nossas terras, é racista, misógino e homofóbico e não esconde sua aversão aos pobres, aquelas e aqueles que sempre foram centrais para Jesus, o Redentor. Todos sabemos que não foi a fé que o elegeu, mas a criminosa fábrica de fake news liderada por seus filhos e pelo “Gabinete do Ódio”.
Não obstante, o que mais nos leva a expressar nossa indignação é a presença de autoridades católicas, especialmente Dom Orani Cardeal Tempesta, na ocasião. No ano de sua eleição, durante a celebração da Missa Crismal, o Papa exortou aos bispos e aos presbíteros: “Sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas’”. Não é possível conceber um Bispo com “cheiro das ovelhas” ao lado do lobo.
Na cidade do Rio de Janeiro, as vítimas do poder abusivo do Estado e das milícias se multiplicam todos os anos. Quantas crianças perdem sua vida por terem sido atingidas por balas perdidas? Quantos moradores de comunidades periféricas vivem constantemente com medo entre as armas dos policiais e dos milicianos? As vítimas da violência sistêmica e dos abusos do poder são as “ovelhas”, cujo cheiro deveria impregnar a vida e a ação de todos os fiéis ordenados, a começar pelo Arcebispo Metropolitano. Mas no lugar de estar com as “ovelhas”, o que assistimos estarrecidos, no último dia 04 de abril, foi um Bispo ao lado do lobo.
Se não bastasse esse fato escandaloso, o Sr. Jair Messias Bolsonaro, em claro aceno eleitoreiro, participará de uma missa, no dia 09 de abril, no Santuário de São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes/ PR. Novamente, sua presença em um templo católico causa indignação porque
bem sabemos que ele é qualquer coisa menos cristão. Seus atos e seu ódio constantemente dirigidos contra tudo e contra todos estão muito longe da bondade e da misericórdia de Jesus de Nazaré.
Mas nossa indignação é novamente maior com aqueles que estão à frente do Santuário e deveriam ter “cheiro de ovelhas”. Mas eles se reúnem com o lobo. Lembramo-nos do capítulo 10 do Evangelho segundo João: o lobo aproxima-se, arrebata e dispersa as ovelhas porque aqueles que estão à frente do rebanho não são pastores, mas mercenários (Jo 10, 12-13). Em um ano de eleições, ver mercenários simplesmente abrindo seus templos para que o lobo arrebate as ovelhas é um escândalo!
O Sr. Jair Messias Bolsonaro escandaliza ao pisar templos católicos, porque de cristão ele não tem nada. Do mesmo modo, escandalizam aqueles que permitem que ele o faça. Fazemos nossas as palavras de Wilmar da Rocha D’Angelis, indigenista e linguista: “Alguns religiosos sonham com o martírio, um momento de provação extrema em que provariam ou provarão seu amor incondicional à sua causa e ao seu Deus. O seu momento de martírio, Dom Orani, está sendo ofertado agora; está em suas mãos. Publicamente peça desculpas a Deus e às suas ovelhas, pelo pecado cometido hoje, ao prestigiar o anti-Cristo e favorecer seus planos de morte. Faça isso, antes que chegue o dia em que seja chamado a renunciar, pelo escândalo causado aos fiéis. São palavra de Jesus: ‘Qualquer que escandalize um destes pequeninos, que creem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar’ (Mt 18,6)”.
Sim! É hora de pedir perdão pelo acontecido no Rio de Janeiro e evitar que um novo escândalo aconteça no estado do Paraná.
Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo
06 de abril de 2022.
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Padres repudiam presença do presidente Bolsonaro em santuários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU