06 Abril 2022
"Agora ou nunca mais". Com essas palavras, Jim Skea, copresidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apresentou o último relatório do grupo de 278 cientistas internacionais reunidos pela ONU para analisar as mudanças climáticas. Depois de elaborar, nos últimos meses, um quadro geral e de examinar os impactos do aquecimento global, desta vez os estudiosos se concentraram na "mitigação", ou seja, na redução - real ou presumida - de emissões à luz do Acordo de Paris de 2015. A má notícia é que, apesar dos compromissos assumidos, estas últimas continuaram a crescer, atingindo o recorde de 2019.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 05-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A queda no ano seguinte foi apenas um efeito colateral da pandemia e do consequente lockdown mundial. Em 2021, a subida foi retomada com ímpeto. Nesse ritmo, será impossível conter o aumento das temperaturas dentro do limite de 1,5 graus. Aliás, em 2100, se atingirá a cota de +3,2 graus com efeitos devastadores para os ecossistemas e os seres humanos que os povoam. No entanto, não se trata de um resultado inevitável. A boa notícia, segundo o IPCC, é que o rumo ao abismo ainda pode ser revertido. Mesmo que o tempo à disposição esteja acabando. Portanto, são urgentemente necessários cortes drásticos nos combustíveis fósseis, com uma redução no uso de 95% para carvão, 60% para petróleo e 45% para gás até 2050.
A alternativa já é viável: na última década, os custos unitários das energias renováveis foram reduzidos a ponto de torná-las mais do que competitivas. Em particular, o "preço" da energia solar caiu 85% e o da energia eólica, 55%. Nunca como agora, portanto, a transição é possível. É preciso, porém, querer tal transição.
A escolha é, portanto, política. Retórica à parte, no entanto, a comunidade internacional ainda não parece a ter feito essa escolha. Ou, pelo menos, não todos os seus expoentes. Isso é demonstrado pela conturbada publicação do relatório do IPCC, prevista para a manhã de ontem e depois atrasada por mais de seis horas. O ponto sensível são as chamadas "diretrizes" para os governantes - que exigem luz verde de todas as 195 partes - e sua ênfase - mais acentuada do que em estudos anteriores – sobre a equidade.
As nações mais ricas – consta no relatório - têm o potencial para reduzir as emissões. Os recursos para tornar sistemas e tecnologias ao alcance do Sul do planeta ainda são escassos. "Países diferentes têm interesses diferentes", disse um dos autores, Jan Minx. No entanto, como salientou a especialista Fátima Denton, diretora do Instituto Universitário da ONU para Recursos Naturais na África, a guerra na Ucrânia e, antes dela, a Covid mostraram com que rapidez os Estados podem realizar transformações econômicas para lidar com a emergência. Às vezes, essas mudanças podem ser negativas, acrescentou Denton, que criticou as propostas para relaxar os limites da produção de gás e carvão para contornar o "fechamento das torneiras" de Moscou.
“Novas infraestruturas de gás, petróleo e carvão não apenas aumentam os graves custos climáticos que já enfrentamos, mas também alimentam a temível espiral geopolítica dos combustíveis fósseis, que tantas vezes têm sido associados a tensões”, acrescentou Laurence Tubiana, da fundação climática europeia. “As pessoas enxergam mais a longo prazo do que os políticos. Querem mudanças, mas precisam ser ajudadas para implementá-las ”, disse Rechel Kyte, da Tuft University. "E se a mobilização, sobretudo, dos jovens não for ouvida, ela vai crescer", concluiu Denton. “Queremos que os governos façam algo sobre o clima agora. E reduzam as emissões até 2030”, declararam as diferentes agências católicas para o desenvolvimento.
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“Clima, agora ou nunca. Cortes nas emissões ou se chegará a +3,2 graus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU