Carta de missionários franceses ao Papa Francisco: “A caminhada latino-americana pode dar alento à Igreja do futuro”

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04 Março 2022

 

Um grupo de missionários franceses, a serviço na América Latina, enviou uma carta ao Papa Francisco em vista da preparação do Sínodo: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, de outubro de 2023.

 

A carta é assinada por 99 missionários franceses que partilham da importância da experiência da Igreja pós-conciliar latino-americana para o processo sinodal global.

 

Eis a carta.

 

Carta ao Papa Francisco “em vista do sínodo sobre a sinodalidade, uma contribuição desde nosso retorno da missão”

 

Querido Papa Francisco,

Somos um grupo de padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas de origem francesa, que vivemos muitos anos, inclusive décadas, ou vivemos ainda a experiência conciliar da Igreja latino-americana graças a Fidei Donum.

Desejamos lhe dar o nosso apoio e lhe dizer quanto apreciamos a lucidez e a humanidade com a qual está conduzindo a Igreja, alinhado ao Vaticano II, do qual o Papa João XXIII resumiu o espírito com as palavras de Jesus: “Buscai primeiro o Reino de Deus”.

Reconhecemos no teu ser e agir como bispo de Roma, os traços de uma Igreja conciliar latino-americana que nos seduziu e ao serviço da qual trabalhamos ou temos trabalhado ainda com alegria e entusiasmo. Estamos conscientes de ter encontrado o sentido de nossas vidas na Igreja pós-conciliar latino-americana, da mesma maneira em que Felipe declarou a Natanael ter encontrado em Jesus de Nazaré aquele de quem falavam Moisés e os profetas (João 1, 45).

Da mesma forma, queremos que saiba do nosso ardente desejo de que a recepção do Concílio na Igreja latino-americana possa contribuir cada vez mais ao dinamismo da Igreja e que se torne um “bem-comum” de toda a Igreja.

As reuniões continentais de Medellín, de Puebla, de Santo Domingo e de Aparecida, com seus respectivos documentos, que são um verdadeiro tesouro da Igreja latino-americana, refletem a execução de um processo que permitiu aprofundar a revelação bíblica e renovar as práticas eclesiais em consonância com as realidades humanas concretas vividas sobre o Continente.

Somos testemunhas de que as orientações destas Conferências ecoaram nas assembleias nacionais ou regionais às menores comunidades rurais ou periféricas, e nas congregações masculinas e femininas. Este vai e vem entre as orientações das Conferências Gerais e a vida das Igrejas locais, testemunham o processo e o espírito sinodal que já estava em ação em todos os níveis eclesiais.

Aqueles homens e mulheres que até então eram considerados como não tendo nada a dizer na Igreja e nada a fazer na sociedade, além de trabalhar e obedecer, tiveram a coragem de se expressar, transmitindo conhecimento, um modo de ser e viver a fé em Cristo que poucos sabiam.

É claro que essa abordagem não foi recebida de forma unânime. Desentendimentos, mesmo fortes resistências, se manifestaram e ainda se manifestam, pelo medo associado à perda do poder clerical ou ao questionamento social e político que os leigos presentes nos concílios suscitaram. Muitos homens e mulheres envolvidos nesse processo receberam todo tipo de pressão e perseguição. Alguns deram a vida e foram reconhecidos como mártires da fé. Em última análise, esta caminhada permitiu mudar os modos de ser cristão em um continente dilacerado pela injustiça, ditaduras e racismo; as estruturas do pecado, como dizia João Paulo II.

À espera da assembleia sinodal que convocou, quisemos partilhar convosco a nossa humilde experiência. Estamos convencidos de que apressar a chegada do Reino de Deus, contribuir para o reconhecimento da igual dignidade de cada pessoa e colocar em prática a opção pelos pobres constituem as bases de saber ser e fazer o que fomos, como você, as testemunhas e, na nossa medida, artesãos, na América Latina. Em nossa opinião, esta base pode dar alento às Igrejas preocupadas com o seu futuro, e nas quais, talvez, as forças vitais ainda não tenham sido despertadas, por preconceito ou falta de referências.

Querido Papa Francisco, enviamos-lhe todos os nossos votos para este Sínodo, bem como o nosso desejo de contribuir para ele, pelo menos com esta reflexão partilhada.

Assinam,


Missionários franceses Fidei donum de ontem e de hoje na América Latina, cujos nomes podem ser conferidos neste link.
30 de junho de 2021.

 

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