23 Fevereiro 2022
"Vamos parar de nos perguntar se haverá guerra ou não. A guerra já existe, e já está produzindo seus efeitos angustiantes na mente de quem a sofre, e talvez também em nossas mentes: não existem 'distâncias de segurança' do front. Sempre foi assim, e é ainda mais na era das 'inteligências artificiais' que manobram a comunicação e a informação (direcionadas pelos comandos militares)", escreve Alberto Leiss, jornalista italiano, em sua coluna do il manifesto, 22-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O espetáculo que estamos presenciando em volta da Ucrânia e especialmente dentro do país induz a um tremendo desconforto.
Enquanto isso, não se pode confiar nos dois principais autores do drama. Você compraria um carro usado (ou um cavalo usado) de Putin? E quem confia nos estadunidenses que, depois que seu Chefe de Gabinete - que até parecia uma pessoa séria - desfraldou falsas provas diante da Assembleia da ONU para justificar a devastadora agressão contra o Iraque de Saddam?
Mas o que mais (me) dói é a condição de quem vive na Ucrânia, especialmente nas chamadas áreas de língua russa, mas não só. Muitos apreciam a democracia que há alguns anos vive em Kiev. É verdade que os líderes do governo mudam com base no voto, mas um povo forçado, por uns e por outros, a participar de "exercícios militares" com fuzis de madeira nos parques onde as crianças deveriam brincar, não acredito que possa ser feliz. E depois há a infinita tristeza daqueles ônibus carregados de mulheres e crianças que são retirados das cidades de Donbass porque a lógica e a prática da guerra inevitavelmente parecem que vão se estabelecer. Uma precaução compreensível, ou uma nova monstruosa instrumentalização?
Vamos parar de nos perguntar se haverá guerra ou não. A guerra já existe, e já está produzindo seus efeitos angustiantes na mente de quem a sofre, e talvez também em nossas mentes: não existem "distâncias de segurança" do front. Sempre foi assim, e é ainda mais na era das “inteligências artificiais" que manobram a comunicação e a informação (direcionadas pelos comandos militares).
Só este Papa o diz claramente, e veementemente a rejeita. Mas não vou fazer a costumeira reclamação contra "os políticos" muito ocupados com outros assuntos. Em algum lugar há outros "políticos" menos conhecidos que estão preparando manifestações públicas para o próximo sábado, 26 de fevereiro. E que discutem sobre isso (por exemplo, no site Peacelink.it).
Há quem, como o historiador Yuval Noah Harari, interveio para dizer que também há motivos para ser um pouco otimista. Um de seus artigos foi traduzido na última edição da Internazionale: “A história da humanidade está em jogo na Ucrânia”.
O "declínio da guerra", pelo menos desde 1945 até os dias atuais, é algo também estatisticamente perceptível. Vemos a paisagem de mortos, desaparecidos, refugiados e migrantes em fuga por causa das guerras, mas hoje - ao que parece - acidentes rodoviários, doenças e suicídios provocam muito mais vítimas. Acima de tudo, mudou, escreve o historiador israelense, que também tem bem claro o drama dos territórios em que vive, a mentalidade das pessoas e até mesmo daqueles que governam.
Os gastos militares já foram o principal item dos orçamentos das nações. Hoje chegam a uma média de 6,5%, muito menos do que se gasta com saúde, escola e assistência social. E já nos parece um desperdício absurdo e criminoso.
Eu teria algumas dúvidas. Mas Harari também as têm: conclui dizendo que se a mudança é uma das prerrogativas humanas mais constantes, as mudanças elaboradas pelos seres humanos também são reversíveis. A infeliz paixão pela guerra pode voltar antes que se acabe realmente por repudiá-la (verbo escrito na Constituição e substancialmente traído). A escolha para a Ucrânia assume um valor geral importantíssimo.
Vamos sair às ruas no sábado. Mas sobretudo vamos pensar no que é a guerra. Acredito que esteja inextricavelmente ligada ao legado de uma concepção masculina de força e de violência. Algo que já não tem mais muito crédito. Mas que não poderá ser definitivamente vencida sem reconhecê-la totalmente no lado escuro dos nossos cérebros e dos nossos corações.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Será que algum dia venceremos a guerra? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU