11 Fevereiro 2022
Depois de dez anos sendo silenciado pelo Vaticano, em parte pelo seu apoio ao casamento igualitário, o padre irlandês Tony Flannery está pedindo uma revisão independente da decisão do Vaticano.
A reportagem é de Elise Dubravec, publicada em News Ways Ministry, 10-02-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Pe. Flannery foi suspenso do ministério pelo Vaticano em 2012. Como padre redentorista e cofundador da Associação de Padres Católicos da Irlanda, Flannery disse que estava “escrevendo artigos e livros instigantes durante décadas sem impedimentos”. Ele acredita que o caso foi “orquestrado por um órgão secreto” que se recusou a se encontrar com ele. “Certamente, eu deveria pelo menos ter a permissão para explicar meus pontos de vista aos meus acusadores”, disse ele.
Hoje, o Pe. Flannery está pressionando exatamente por isso: uma chance para seguir a sua consciência e continuar seu ministério sem controles magisteriais.
Com um crescente apoio ao ministério LGBTQ, especialmente do Papa Francisco, o Pe. Flannery disse recentemente ao jornal The Irish Times:
“Eu gostaria que o processo pelo qual meu caso foi tratado pela Congregação para a Doutrina da Fé fosse revisto, de preferência por alguém independente, que tenha conhecimento de direito civil e também de direito canônico. Eu continuo carregando um fardo por não ter sequer recebido o mais básico dos direitos humanos ao lidar com esse órgão. Não acho que meu pedido de revisão independente seja pedir demais, em relação a uma instituição que proclama que defende a verdade, a justiça e o amor.”
Ele observou que três bispos que trataram do caso não estão mais na Congregação. Um faleceu, outro foi removido, e um terceiro foi transferido pelo Papa Francisco. Flannery reconheceu ainda que Francisco escreveu uma carta afirmativa ao New Ways Ministry.
“Todas as questões sobre as quais eu falei e escrevi, e às quais a Congregação para a Doutrina da Fé se opôs, em torno do sacerdócio, das mulheres e do ensino sexual católico estão agora sendo discutidas ampla e livremente em toda a Igreja, sem medo de sanções”, disse ele.
“Recentemente, ouvi um teólogo ser perguntado como ele pode ser tão aberto sem receber sanções contra si mesmo como ocorreu comigo”, disse Flannery. “A sua resposta foi que era uma questão de tempo, que o clima é diferente sob o atual papado.”
No início da disputa de Flannery com o Vaticano, quando ele foi ameaçado de excomunhão a menos que assinasse uma promessa de aderir à ortodoxia católica, o que significava negar a sua defesa do casamento igualitário e da ordenação de mulheres, ele respondeu: “Como eu posso colocar meu nome em tal documento quando isso vai contra tudo em que acredito?”.
Ele acrescentou: “Se eu assinasse isso, seria uma traição não apenas a mim mesmo, mas também aos meus colegas padres e leigos católicos que querem mudanças. Eu me recuso a ser aterrorizado até a submissão.”
Ao longo dos anos seguintes, Pe. Flannery lançou várias publicações sobre suas lutas com o Vaticano. Seu título mais recente é “From the Outside: Rethinking Church Doctrine”. Ele continua pedindo reformas dentro do Vaticano e recebeu apoio da sua ordem religiosa e de outras lideranças católicas. Agora, aos 75 anos, Flannery pondera:
“O que eu quero neste momento da minha vida? Há algo que eu gostaria que ocorresse enquanto a minha mente ainda está funcionando (meu irmão mais velho teve demência antes de morrer), e enquanto eu tiver uma saúde razoavelmente boa.”
Às vezes, as lideranças católicas fazem de tudo para extinguir ministérios que defendem o tratamento justo e oportunidades equitativas. Ainda mais surpreendente do que isso são os católicos que continuam esse trabalho mesmo depois de enfrentar ameaças, como o Pe. Flannery. Ele continuou apesar dos esforços vaticanos para silenciá-lo.
O Pe. Flannery pode precisar apelar ao Vaticano por causa do seu status clerical, mas as suas ações e a sua luta são um exemplo para que leigos e leigas avancem em nossa missão sem temer possíveis sanções.
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Causa LGBTQ. Dez anos depois, Tony Flannery, padre redentorista, receberá justiça no Vaticano? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU