Canonista: os jovens seminaristas conservadores são "aterrorizantes"

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08 Fevereiro 2022

 

O padre Tom Doyle disse que é preciso desafiar a "aristocracia clerical" na Igreja. A jovem geração de seminaristas pode ser "aterrorizante" quando se considera até que ponto seu conservadorismo pode chegar.

 

A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por The Tablet, 03-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

O padre Tom Doyle, que durante décadas liderou uma campanha em favor das vítimas de abusos sexuais clericais, expressou preocupação ao constatar o quanto são conservadores os jovens que saem dos seminários, como são "tão doutrinários" e "completamente carentes em relação a um real trabalho pastoral".

Falando em um webinar sobre "Vidas roubadas: abuso e corrupção na Igreja Católica", organizado pelos grupos reformistas leigos "Root and Branch Reform" (reforma de raízes e galhos) e "Scottish Laity Network" (rede de leigos escoceses), o padre estadunidense disse: "Esses jovens ultraconservadores querem circular com todas as vestimentas de 1950 e rezar a missa em latim. É uma espécie de romantismo”. Ele disse: "Acreditam firmemente na ideia de que, uma vez ordenados, serão seres sagrados e radicalmente diferentes".

Criticando uma "mitologia" de padres que seriam ontologicamente mudados com a ordenação, afirmou que esse tipo de ensinamento do século XVI francês foi trazido de volta à vida pelo Papa João Paulo II. Teria sido usado para reforçar uma determinada atitude: "Somos melhores do que vocês e podemos fazer o que quisermos", o que levou muitos na Igreja a ver o clero como "acima de toda responsabilidade".

O padre Doyle, que é um terapeuta especializado em dependências, explicou que a má gestão da Igreja das acusações de abusos e dos abusadores está ligada a "uma concepção desviante do clero e dos bispos que se consideram a essência da Igreja" e "essenciais" para a salvação.

"Acreditar que precisamos de ritos, que precisamos de bispos e do clero para passar desta existência para a próxima, é falacioso", disse ele. Essa crença criou "uma aristocracia clerical" na Igreja que precisava ser combatida.

“Todos nós sabemos o que é o clericalismo. É uma doença. É um vírus que atingiu a Igreja Católica, e significa que o clero e o estilo de vida clerical e seus valores vêm em primeiro lugar. É um absurdo total”.

Algumas decisões também estavam ligadas ao desejo de proteger a instituição. “O bem da Igreja realmente significava o bem de seus aparatos. Alguns bispos admitiram isso nos últimos anos”.

O padre de 77 anos disse que foi "um erro intencional" no sentido de que "sabiam o que estavam fazendo" quando "sacrificavam" as vítimas e suas famílias - "todos danos colaterais para proteger a Igreja, devido à convicção equivocada de que a Igreja institucional é essencial para a salvação dos membros”.

Ele alertou que “ainda há muita resistência na Igreja” em reconhecer as vítimas de abuso e disse que o sínodo deve ser “algo mais radical, que mude a Igreja de dentro”.

 

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