23 Outubro 2021
"Um programa sério de atração de adultos jovens de outros estados, que poderá ser focado nos descendentes dos migrantes dos anos 1970/80, contribuirá também para dinamizar a economia gaúcha", escreve Milton Pomar, geógrafo e mestre em Políticas Públicas, em artigo publicado por Sul21, 20-10-2021.
Quem não tem amigos e amigas que ainda não têm neto ou neta, porque seus filhos ou filhas não querem nem pensar no assunto? Em muitas situações, a família se resume apenas à mãe (ou o pai) e a um filho ou filha distante, sem chance de voltar a morar na mesma cidade, muito menos de voltar a morar com o pai ou a mãe que hoje está só – se esse for o seu caso, quando estiver com 70, 80 ou 90 anos de idade, quem vai cuidar de você?
Essa é a realidade nacional angustiante de grande parte das 66,2 milhões de eleitoras e eleitores, com 45 anos de idade e mais (29,5 milhões de pessoas idosas e 36,7 milhões de “chegando lá”), equivalente a 45,3% do eleitorado total, números de setembro de 2021, do cadastro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Sul do Brasil, do total de 21,5 milhões de eleitoras e eleitores, nada menos que 5,6 milhões estão na faixa do “chegando lá” e 4,8 milhões já passaram dos 60 – hoje, esse universo de 45 anos de idade e mais representa 48,5% do eleitorado da região. Apesar do tamanho dessa parcela da população, e da possibilidade de ultrapassarem os 90 anos de idade – a exemplo do que ocorre no Japão, China e Portugal, onde há milhares de pessoas centenárias –, as questões relativas ao seu futuro parecem não ocupar muitas mentes e corações no Brasil.
Algumas delas se perguntam sobre o futuro imediato, pós-pesadelo atual. Outras preocupam-se com a sua situação em particular – “com quem estarei?”, ou “quem estará comigo?”, e o receio maior é “quem cuidará de mim?” (se precisar/depender de ajuda). Mas a grande maioria que está “chegando lá” está tão envolvida em tentar sobreviver, que nem se arrisca a pensar mais adiante, em como será em 2030 ou 2040.
Essas questões ganharam força nos últimos anos, com o abrupto envelhecimento da população brasileira, particularmente a da região Sul, e o progressivo esvaziamento populacional da grande maioria dos mil municípios com menos de 20 mil habitantes. Famílias menores, migração, empobrecimento, e as paisagens nos interiores cada vez mais ocupada por pessoas idosas. Caminhamos para uma situação caótica nesses municípios, nos quais haverá grande quantidade de pessoas idosas (50% a 60% do eleitorado), muitas delas vivendo sozinhas. Quem considerar exagerada essa previsão, pesquise sobre a situação de Portugal, onde o governo está agindo desde 2016 para tentar reverter o caos iminente nos pequenos povoados.
Por várias razões, a região Sul tem a pior situação demográfica do Brasil, e, nela, o Rio Grande do Sul (RS) é o estado com o interior mais envelhecido e esvaziado. No caso do RS, a migração expressiva da sua população rural para outros estados contribuiu bastante para a desastrosa situação atual. Por isso, a única maneira de aumentar em poucos anos a proporção de adultos jovens no estado é a “migração reversa”, que evitará que a tendência de diminuição populacional se concretize. Um programa sério de atração de adultos jovens de outros estados, que poderá ser focado nos descendentes dos migrantes dos anos 1970/80, contribuirá também para dinamizar a economia gaúcha. (Na lógica futebolística do “quem não faz leva”, se demorar a acontecer, essa alternativa poderá ser ultrapassada pela atração, pelos países europeus, de jovens do RS descendentes de italianos, poloneses, alemães etc).
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Migração reversa para rejuvenescer a população do RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU