22 Outubro 2021
“Do ponto de vista do ensino católico, a legislação deve ser avaliada em como ela apoia e protege os mais vulneráveis entre nós, e não por qual partido a apoia. O projeto de reconciliação do orçamento não apenas passa neste teste, mas também aborda uma parte significativa da agenda de justiça social da Igreja. Dadas as margens estreitas em ambas as câmaras, uma voz católica unificada pode ser necessária para ajudar na aprovação do projeto”, escreve J. Kevin Appleby, diretor de políticas de migração internacional do Centro de Estudos e Migração e da Scalabrini International Migration Network, em artigo publicado por America, 20-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Políticos atuam de uma forma engraçada. Embora a narrativa política seja que os bispos dos EUA se opõem ao presidente Biden por causa de sua posição sobre o aborto, existe uma oportunidade para ambos os atores trabalharem juntos para promulgar uma das peças de legislação mais socialmente progressistas em décadas.
O pacote de gastos de “rede de segurança” de quase 2 trilhões de dólares de Biden, que ele chama de Build Back Better Act, está agora sendo considerado pelo Congresso como um projeto de reconciliação orçamentária, que exige maioria simples para ser aprovado no Senado e, portanto, evita uma obstrução que com 60 votos o arquivaria. Se for aprovado no Senado, provavelmente será por meio de uma votação partidária com todos os 50 Democratas (e apenas os democratas) votando a favor e a vice-presidente Kamala Harris desempatando. O caminho para a aprovação é quase tão estreito na Câmara dos Representantes, onde os democratas possuem apenas uma maioria de 220-212.
O projeto de lei contém muitas ideias que os bispos dos EUA há muito apoiam, pelo menos como princípios gerais, incluindo licença familiar remunerada, créditos fiscais para crianças e famílias trabalhadoras, ampliação dos cuidados de saúde para os pobres e idosos, apoio para creches e iniciativas de mudança climática (também há uma chance de incluir proteção contra deportação e autorização de trabalho para certos imigrantes, embora o parlamentar do Senado tenha rejeitado uma proposta para incluir isso no projeto de reconciliação). Algumas dessas ideias são mencionadas em uma carta de 7 de setembro para Congresso da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, em que os bispos pediram aos legisladores “que trabalhem em prol de políticas que ajudem aqueles que estão à margem da sociedade”.
O projeto também pode ser compatível com as prioridades pró-vida da Igreja. O senador Joe Manchin, um democrata da Virgínia Ocidental e um voto crucial para a aprovação da legislação, afirmou que se oporia à medida sem a inclusão da Emenda Hyde, que limita o financiamento federal para o aborto em quase todos os casos. Surpreendentemente, dadas as declarações de sua campanha sobre o assunto, Biden declarou publicamente que assinaria o pacote de orçamento se esse incluísse a Emenda Hyde.
As vozes católicas em ambos os lados da divisão política devem ter interesse em trabalhar juntas para pressionar por um projeto de lei abrangente que reflita as prioridades católicas. Alguns católicos podem se opor porque não querem dar uma vitória ao governo Biden e aos Democratas. Mas isso revelaria que essas vozes católicas são guiadas mais por suas alianças políticas do que pelos ensinamentos sociais de sua fé.
Do ponto de vista do ensino católico, a legislação deve ser avaliada em como ela apoia e protege os mais vulneráveis entre nós, e não por qual partido a apoia. O projeto de reconciliação do orçamento não apenas passa neste teste, mas também aborda uma parte significativa da agenda de justiça social da Igreja. Dadas as margens estreitas em ambas as câmaras, uma voz católica unificada pode ser necessária para ajudar na aprovação do projeto.
Na verdade, as organizações católicas, incluindo a Conferência Episcopal, deveriam pressionar os Republicanos, que atualmente são unanimemente contra o projeto, a apoiar a medida em um esforço para responsabilizar ambas as partes pelas posições políticas da Igreja. Assim como os bispos falam aos Democratas sobre o aborto, eles deveriam falar aos republicanos sobre questões de justiça social.
Esta oportunidade política nos lembra que na política não é sensato queimar pontes. Um oponente em uma questão um dia pode se tornar um aliado no dia seguinte. Também demonstra que a abordagem bipartidária tradicional dos bispos dos EUA em relação às políticas públicas é a certa.
Infelizmente, a recente controvérsia sobre a possibilidade de impedir o presidente Biden, um Democrata, de receber a comunhão colocou os bispos dos EUA em risco de abandonar essa abordagem bipartidária e serem rotulados, talvez corretamente, como uma igreja de partido único.
Essa percepção enfraqueceria a influência da Igreja em questões importantes da época, como o pacote de gastos de Biden. Os bispos (e os católicos em geral) são mais eficazes em influenciar os governantes eleitos à luz do Evangelho, em vez de usar a Eucaristia como arma.
Trabalhar com o presidente Biden e os Democratas em um projeto de lei que reflete os valores católicos representa um teste para os bispos e para uma comunidade católica politicamente dividida. Isso poderia desencadear, no entanto, o poder de uma igreja unificada e ajudar a corrigir o caminho perigoso dos bispos para longe do bipartidarismo.
A abertura está aí.
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EUA. Grupos católicos – inclusive os bispos – deveriam pressionar os Republicanos para apoiar o plano de gastos de Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU