10 Agosto 2021
Moisés desce do Sinai e reúne todo o povo: “Escutem: devo comunicar-vos uma notícia boa e outra ruim”. "Dê-nos primeiro a boa!", exclama o povo em uma só voz. E Moisés: "A boa notícia é que consegui baixar de quinze para dez mandamentos ... A má notícia é que infelizmente não pude fazer nada quanto ao adultério!"
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 08-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esta é uma incursão no mundo do humorismo judaico: muitos talvez saibam que é uma das hilariantes histórias que Moni Ovadia costuma propor, um extraordinário ator capaz de entrelaçar diferentes gêneros sob a insígnia de suas matrizes culturais e religiosas. No entanto, este apólogo permite-nos, com certa liberdade, uma reflexão séria: o escritor Aldo Palazzeschi advertia que “a ironia é o ponto extremo da política do espírito”. Pois bem, na citada anedota existe um elemento característico do comportamento humano, a escolha do mínimo.
Principalmente no âmbito moral, o desconto é a pergunta mais frequente. Não é à toa que proliferou, mesmo no nível teológico, a casuística moral: certamente tinha o propósito de temperar o rigor da norma com as atenuantes induzidas pelos contextos, pelas situações, pelas desculpas. Mas, progressivamente, essa práxis fez empalidecer os princípios, levando cada vez mais ao compromisso, a exceção, o mínimo denominador comum ético. Uma verdadeira moral não pode ser construída apenas sobre o mínimo. Aliás, é do ideal que se deveria proceder ("Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito", dizia Jesus) e lá de cima descer recorrendo - quando necessário - à misericórdia e à compreensão.
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