16 Julho 2021
"Com a viagem real e simbólica ao lugar humano de sofrimento, Francisco recolocou-o no centro, prestando também um testemunho grato por ter 'experimentado', nestes seus 'dias de hospitalização', 'a importância de um bom serviço de saúde gratuito, acessível a todos'. Uma lição de 'cultura do cuidado'", escreve Stefania Falasca, jornalista, em artigo publicado por Avvenire, 15-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
É singular, mas é assim. As viagens de Francisco sempre terminam em frente a um ícone, o da Salus Populi Romani. E também desta vez, voltando ontem de manhã da Policlínica Gemelli, foi parar ali antes de voltar para casa. Como se quisesse dizer que também dessa "viagem" ele havia retornado.
Porque também essa, neste 2021, depois daquela no Iraque, foi outra viagem para o Papa. Uma outra viagem a outro continente: aquele humano do sofrimento e do cuidado.
De fato, ele falou de sofrimento e cuidado no Angelus no domingo no calor escaldante de um domingo de julho, debruçando-se de uma varanda do Gemelli. Ele não quis deixar - digamos assim - a dor sozinha: uniu-a ao cuidado, porque é exatamente assim que os encontramos unidos no Evangelho, porque este é o Evangelho. Recordando justamente aquela passagem onde lemos que os discípulos de Jesus “ungiram muitos enfermos com óleo e os curavam”, enfatizou que esse óleo “é também a escuta, a proximidade, a solicitude, a ternura de quem cuida da pessoa doente: é como uma carícia que te faz sentir melhor, acalma a dor e alivia". Em seguida, citando mais uma vez a passagem de Mateus 25, onde no "protocolo do juízo final uma das coisas que nos será perguntadas será a proximidade aos enfermos", daquela varanda de hospital quis falar com alguns pequenos companheiros de internação. E assim que ele conseguiu sair de seu leito no décimo andar, foi imediatamente para a ala da enfermaria de oncologia pediátrica.
Uma curta distância foi assim a segunda etapa de sua viagem apostólica que o viu entrar no imenso mundo da dor, com aquele silêncio em que, como já havia dito várias vezes, “o mais importante é o olhar ... a força. Está aí: o olhar amoroso do Pai”.
Cuidado. É uma palavra que para o Papa é sinônimo de Deus. Na Mensagem para o XXIX Dia Mundial dos Doentes, no passado dia 11 de fevereiro, havia escrito: “Com efeito, do mistério da morte e da ressurreição de Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno tanto à condição do paciente quanto de quem cuida dele. O Evangelho muitas vezes atesta isso, mostrando que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos mágicos.
São sempre fruto de um encontro, de uma relação interpessoal, em que a fé de quem o acolhe corresponde ao dom de Deus, oferecido por Jesus, como resume a palavra que Jesus muitas vezes repete: “A tua fé te salvou”. “A doença – havia acrescentado - sempre tem um rosto, e não um só: tem o rosto de cada doente, mesmo daqueles que se sentem ignorados, excluídos, vítimas de injustiças sociais que lhes negam seus direitos essenciais”. A pandemia trouxe à tona muitas insuficiências nos sistemas de saúde e deficiências na assistência a pessoas doentes. Os mais frágeis e vulneráveis nem sempre têm acesso garantido aos cuidados e nem sempre de forma equitativa.
O Papa repetiu que “precisamos de uma vacina para o coração: e esta vacina é a cura”, porque “não estamos no mundo para morrer, mas para gerar vida” e “não serve conhecer tantas pessoas e tantas coisas se não as cuidarmos”. Por isso, é “importante educar o coração para o cuidado dos outros, do mundo, da criação”.
Com a viagem real e simbólica ao lugar humano de sofrimento, Francisco recolocou-o no centro, prestando também um testemunho grato por ter “experimentado”, nestes seus “dias de hospitalização”, “a importância de um bom serviço de saúde gratuito, acessível a todos". Uma lição de "cultura do cuidado".
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Depois da “viagem” ao Gemelli do Papa. A vacina da cura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU