29 Junho 2021
No centro da conversa o papel dos bispos estadunidenses e o documento sobre o presidente dos Estados Unidos.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 28-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“A atmosfera espiritual, a arte divina e a impressionante arquitetura me deixaram sem palavras. Realmente maravilhoso”. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, registra sua impressão num tweet após ver a Capela Sistina, a obra-prima de Michelangelo que viveu na mesma época do descobrimento da América (foi consagrada apenas nove anos antes da chegada de Cristóvão Colombo às Índias Ocidentais). E assim a Capela Sistina se torna uma espécie de símbolo dos laços renovados entre os Estados Unidos e o Vaticano. A guerra com Trump (e seu aliado Monsenhor Carlo Maria Viganò, o ex-núncio em Washington) termina definitivamente. Os EUA e o Vaticano viram a página. Termina hoje a última e mais moderna das lutas pelas investiduras. Como naquela medieval, a relação entre a Igreja e o poder político estava em jogo.
É arquivado o "tapa de Anagni", dado ao Papa e ao Vaticano pelo antecessor de Blinken, Mike Pompeo, nove meses atrás, quando em visita a Roma atacou publicamente o acordo com a China para a nomeação de bispos.
Os dois sozinhos (poder político imperial estadunidense e o papal) estão novamente alinhados. O Trono não rema mais contra o Altar e isso será positivo para a parte final do Pontificado de Francisco que luta contra muitos problemas apesar de terem se passado oito anos desde a eleição (da pedofilia aos escândalos financeiros) e evitará que o Vaticano se torne vassalo em suas relações com Pequim. Certamente servirá para evitar que a Conferência Episcopal estadunidense se posicione como um contrapoder a Roma.
Talvez não seja por acaso que dois dias antes da chegada de Blinken, o Usccb tenha especificado que o documento que vai votar em novembro sobre a "coerência eucarística" (isto é, sobre os critérios pelos quais os católicos podem receber a comunhão) não conterá uma proibição para o presidente Joe Biden (um católico que apoiou as leis do aborto, afinal também Andreotti assinou a lei do aborto na Itália e ninguém jamais pensou em não lhe dar acesso à comunhão).
Blinken chegou ao Vaticano às 8 da manhã. A conversa com o Papa durou mais que o normal: 40 minutos, disse aos jornalistas o porta-voz da Assessoria de Imprensa, Matteo Bruni, em um "clima cordial". O Papa relembrou sua viagem aos Estados Unidos em 2015, quando Biden era vice-presidente de Barack Obama, e expressou seu carinho e preocupação pelo povo estadunidense.
O Papa Francisco falou abertamente com Blinken sobre o papel dos bispos dos EUA na realidade do país e sua relação com o presidente Biden.
No centro das conversas, segundo o que foi informado, também a geopolítica do Oriente Médio e a presença da OTAN na Europa. O secretário de Estado Blinken garantiu a Francisco o apoio da Casa Branca em relação às negociações que o Vaticano está realizando com a Venezuela, desde que a mediação seja aceita pelo presidente Nicolas Maduro.
Em seguida, o encontro com o secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin e seu vice, Paul Gallagher. Hoje os temas que unem o Vaticano e os Estados Unidos (crise ecológica, imigração, pobreza, direitos humanos, liberdade religiosa, Oriente Médio, Iraque) são mais do que aqueles que os dividem. E começarão os preparativos para a possível visita de Biden a Francisco no final de outubro.
“O encontro com o Papa foi, no plano pessoal, uma grande honra. A oportunidade de falar com ele foi um momento memorável”, comentou o Secretário de Estado dos EUA: “Conversamos sobre muitas coisas, estou extremamente satisfeito com a liderança de Sua Santidade sobre a pandemia, clima, migração, refugiados”, acrescentou numa coletiva à imprensa com o ministro Luigi Di Maio.
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Papa e Blinken, cara a cara sobre a comunhão para Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU