28 Junho 2021
O secretário de Estado do Vaticano: o pontífice sabia da nota da Santa Sé. O objetivo é baixar o tom e recompactar cardeais e bispos divididos.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 25-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco sabia da “nota verbal” com a qual o Vaticano pedia para “remodular” o projeto de lei Zan? E é ele quem está por trás da marcha à ré revelada pelo cardeal Pietro Parolin?
Essas são as perguntas que mais repercutem nos edifícios das instituições, mas também nos palácios sagrados do outro lado do Tibre, assim como nas redes sociais e nas sacristias de toda a Itália. A resposta dupla é dada pelo próprio secretário de Estado: “O princípio é de que os superiores sejam sempre informados de tudo aquilo que se faz”.
Mesmo que, em relação ao surpreendente pedido de modificação do projeto de lei contra a homofobia, vários prelados da Santa Sé assegurem que “com toda a probabilidade o pontífice não podia imaginar as consequências midiáticas e políticas que isso provocaria. Já faz algum tempo que Francisco delegou à Secretaria de Estado esses temas e as relativas intervenções, sem segui-las depois nos detalhes técnicos”.
Então, por que Bergoglio não se pronuncia agora? É a nova pergunta que surge espontaneamente. “Por enquanto, ele optou por continuar mantendo o silêncio e está muito atento para não deixar vazar nenhuma mensagem que possa desautorizar a Terza Loggia [sede da Secretaria de Estado] ou incendiar ainda mais os ânimos com uma invasão de campo”, explica um purpurado.
A decisão de enviar sinais de distensão e de iniciar uma “fase dois”, por meio de uma “solene” entrevista nas mídias vaticanas, “foi tomada pelo próprio Parolin, recém-chegado do México, com três objetivos acima de tudo”, disse um alto prelado. O primeiro: “Assumir a responsabilidade pela iniciativa diplomática disruptiva”. O segundo: “Baixar o tom e reposicionar-se no espírito do diálogo invocado por Francisco em todos os âmbitos, para evitar qualquer ruptura, também na defesa dos princípios”. E, ainda, “o propósito comunicativo”: ditar a linha a cardeais e bispos que, nestas horas, expressaram comentários diferentes, muitas vezes contrapostos – “e até grotescos” – que alimentaram ainda mais a confusão e a perplexidade no âmbito católico e além.
“Mas uma intervenção tão relevante, que de fato esvazia a nota, em um momento tão delicado, é impensável sem o aval de Santa Marta”, afirma outro monsenhor, confirmando que “houve uma consulta entre o papa e o secretário de Estado”.
Resta uma dúvida: por que foi tomada uma ação diplomática tão escorregadia? Quem a liderou é conhecido: Dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que entregou a missiva explosiva ao embaixador da Itália junto da Santa Sé, Pietro Sebastiani, no dia 17 de junho passado.
Mas a escolha da cúpula da Secretaria de Estado foi feita “depois de fortes e contínuas pressões recebidas de uma parte importante do episcopado italiano”, revelam na Santa Sé. E, além disso, foram decisivas as “respostas inexistentes” do governo italiano. Em várias conversas oficiais e informais, por exemplo com o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, a cúpula da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e as hierarquias vaticanas teriam exposto algumas perplexidades, em particular sobre a parte do projeto de lei que regula as atividades das escolas particulares para o Dia Nacional contra a Homofobia. O medo é a “colonização ideológica”, temida várias vezes por Francisco nos últimos anos, sem referências específicas a nenhum país.
“A liberdade de expressão entendida como liberdade de educação” é o conceito-chave para a Igreja. “Respostas recebidas: zero”, garantem na Santa Sé. Assim, optou-se por uma “elevação do tom, expressando claramente – cristalizando, para usar o jargão diplomático – a forte apreensão”.
Parolin declarou na quinta-feira, 24, que “também nos pareceu algo bastante normal poder dizer que há um acordo sobre esse tema e por isso também podemos expressar a nossa preocupação”.
Embora a maioria dos bispos seja contrária ao texto do projeto de lei tal como ele está agora, nas Sagradas Salas italianas e vaticanas “respira-se um ar pesado”, porque a tempestade elevou o nível de tensões entre as duas “facções”: os contrários aos posicionamentos públicos da Igreja, que podem ser interpretados como ingerências; e os promotores da estratégia do confronto e das barricadas, que não compartilham a abordagem mais moderada pregada, por exemplo, pelo cardeal presidente da CEI, Gualtiero Bassetti.
E agora? A Secretaria de Estado estaria trabalhando para preparar uma “equipe de construtores de pontes e especialistas”, liderada por Gallagher, pronta para valorizar um canal de colaboração com a Itália.
No dia 21 de julho de 2021, às 10h, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza a conferência A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas, a ser ministrada pelo MS Francis DeBernardo, da New Ways Ministry – EUA. A atividade integra o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate.
A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas
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Vaticano: “Pronto para o diálogo com o governo italiano” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU