14 Mai 2021
“No exato momento em que eu caía na Praça São Pedro, tive o forte pressentimento de que seria salvo. Essa certeza nunca me deixou, nem mesmo nos piores momentos, tanto após a primeira operação quanto durante a doença viral. Uma mão disparou, outra guiou a bala”. O mostrador da história marca 17h17min do dia 13 de maio de 1981, quando Alì Agca atira em São João Paulo II. Wojtyla estava naquele momento no papamóvel, na Praça São Pedro, e saudava os numerosos fiéis presentes na audiência geral. Mas, de repente, a história mudou.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada em Il Fatto Quotidiano, 13-05-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Il Papa doveva morire
Quarenta anos depois daquele atentado, Antonio Preziosi, diretor da Rai Parlamento, publicou o livro Il Papa doveva morire (O Papa tinha que morrer, em tradução livre, San Paolo). Agca, um assassino profissional, ficou, de fato, muito surpreso com o fato de Wojtyla ter sobrevivido a seus disparos. Algo não saiu como planejado. No entanto, tudo havia sido cuidadosamente planejado para matar o pontífice polonês eleito há pouco mais que dois anos e meio. Um Papa muito incômodo, especialmente para o regime comunista que ainda dominava a Polônia da qual Wojtyla era filho.
Um bispo de Roma que, não muitos anos depois, teria sido determinante para a queda do Muro de Berlim. Os historiadores, de fato, concordam que o pontificado de São João Paulo II contribuiu decisivamente para acelerar a queda do comunismo. Aos olhos dos vértices daquele regime, portanto, era clara a consciência de que o Papa polonês era muito perigoso. Mesmo que ainda existam profundas zonas cinzentas e inúmeras perguntas sem resposta sobre o ataque.
Em 27 de dezembro de 1983, Wojtyla foi até a prisão romana de Rebibbia para encontrar Agca. “O conteúdo do encontro - escreve Preziosi - mantido reservado aos meios de comunicação pelo Santo Padre, deve ser de alguma forma 'decepcionante' para aqueles que esperavam revelações ou novidades destinadas a ficar na história. O Papa confirma seu perdão paternal a Agca. Pelas imagens pode-se ver o Pontífice segurando o braço de seu algoz e ouvindo atentamente suas palavras, quase encostando a cabeça naquela do assassino. E, saindo da cela, o Pontífice diz simplesmente aos jornalistas: “Falei-lhe como se fala a um irmão, a quem perdoei e que goza da minha confiança. O que dissemos é um segredo entre mim e ele'”.
“Ainda assim - acrescenta Preziosi - muitos relatam que Agca 'atormentou' o Papa para saber como ele conseguiu sobreviver ao atentado. Para ele, de fato, em condições 'normais', o Papa tinha que morrer. Dos vinte e um minutos passados juntos, o Papa percebe a obsessão de Agca em querer saber os detalhes do terceiro segredo de Fátima. Ele quer que sejam contados por João Paulo II, porque não consegue explicar por que ele, que se considerava um assassino infalível, fracassou em seu disparo. 'Ele me perguntava isso obsessivamente, eu diria que quase me molestava', confidenciou o Papa ao seu médico Renato Buzzonetti”.
O jornalista escreve que “Agca perguntava ao Papa: 'Como você fez isso? Como você conseguiu se salvar?' 'Santidade - Buzzonetti questionou - Agca provavelmente se considera um atirador perfeito'. E o Papa tinha respondido, não com desprezo, mas com plenitude de piedade e misericórdia humana, que na realidade 'neste encontro ele me pareceu um pobre homem’. O encontro foi por "caridade cristã", disse o papa certa vez a Indro Montanelli. Mas do encontro entre o Papa e Agca nenhuma novidade fundamental emergiu sobre o porquê do atentado. Afinal, foi um encontro de apenas dez minutos. Muito pouco, conforme o próprio Pontífice admite, 'para compreender algo sobre os motivos e os fins que certamente fazem parte de um emaranhado ... é assim que se fala? ... muito grande'”.
Como recorda no prefácio do livro de Preziosi o monsenhor Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, sobre o atentado “existem as versões mais disparatadas, construídas a cada oportunidade por Ali Agca, criadas intencionalmente para desviar e oferecer às suas manifestações maníacas um palco onde voltar a atuar como protagonista, sem perceber que para ele a cortina já está fechada há tempo. As palavras de perdão pronunciadas por São João Paulo II são como uma lápide porque trazem consigo a obrigação de esquecer o ódio que moveu a mão assassina”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
‘O Papa tinha que morrer’: depois de quarenta anos, o ataque a João Paulo II ainda dá o que falar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU