24 Março 2021
Com o agravamento da crise do coronavírus no Rio Grande do Sul e o esgotamento do sistema de saúde público e privado, o governador Eduardo Leite (PSDB) enviou ofício ao general do Comando Militar do Sul, Valério Stumpf Trindade, pedindo a disponibilização dos leitos clínicos e de UTI dos hospitais militares existentes no Estado para que fossem colocados à disposição da Central Estadual de Regulação da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
A reportagem é de Luciano Velleda, publicada por Sul 21, 22-03-2021.
Como justificativa para o pedido, Leite destacou o aumento exponencial da demanda e a exacerbação do uso da capacidade de leitos hospitalares no RS. Disse ainda que os esforços conjuntos são essenciais para o enfrentamento da pandemia e para garantir a assistência hospitalar à população doente de covid-19. No ofício, enviado dia 5 de março, o governador solicitou também o compartilhamento dos dados da taxa de ocupação dos leitos existentes nos hospitais controlados pelo Comando Militar do Sul.
“Por todo o exposto, peço ao Comando Militar do Sul solidariedade por meio da disponibilização dos leitos clínicos e de UTI adulto de vossas unidades hospitalares essenciais no manejo desta dramática situação pandêmica”, afirmou Leite.
Os hospitais aos quais o governador se refere no ofício são: Hospital Geral de Santa Maria; Hospital de Guarnição de Alegrete; Hospital de Guarnição de Bagé; Hospital de Guarnição de Santiago; Hospital Militar de Área de Porto Alegre; Policlínica Militar de Porto Alegre; e os Postos Médicos das Guarnições de São Gabriel, São Borja, Santana do Livramento, Cruz Alta, Santo Ângelo, Pelotas e Uruguaiana.
O governo do Estado recebeu a resposta ao pedido seis dias depois. No dia 11 de março, o Comando Militar do Sul informou que providenciaria a instalação, em Porto Alegre, do hospital de campanha que fora montado em Manaus. No documento, é explicado que a estrutura é composta por dois módulos móveis que começariam a ser transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) no mesmo dia. O ofício diz ainda que o hospital de campanha acrescentaria novos leitos clínicos e de UTI.
O documento do Comando Militar do Sul, entretanto, não faz qualquer menção ao pedido original do governador sobre o compartilhamento dos dados de ocupação dos hospitais militares no RS, e tampouco faz referência à solicitação de Leite para que os leitos clínicos e de UTI dos hospitais militares fossem colocados à disposição da Central Estadual de Regulação para receber pacientes no momento em que o sistema de saúde está em colapso.
O hospital de campanha foi montado junto ao Hospital Restinga e Extremo-Sul (HRES), em Porto Alegre. Com 12 leitos clínicos e oito de UTI, a estrutura começou a receber pacientes na última sexta-feira (19) e, na prática, já abriu lotada com os pacientes com covid-19 transferidos da emergência do HRES.
Na tarde de sexta-feira, o Hospital da Restinga registrava 18 pacientes com covid-19 na emergência aguardando leito de UTI. Às 15h desta segunda-feira (22), já são 36 pacientes com covid-19 na emergência do hospital à espera de um leito de UTI vago. A taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva no RS está em 108%, há três semanas operando acima dos 100%. Em Porto Alegre, a sobrecarga na ocupação de leitos registra 113,5% na tarde desta segunda-feira.
Questionado pela reportagem sobre o motivo de o Comando Militar do Sul não ter informado a atual taxa de ocupação dos hospitais militares no RS e nem ter disponibilizado leitos à Secretaria Estadual da Saúde, o Ministério da Defesa não respondeu objetivamente a questão.
O Ministério informou que, desde o início da pandemia no Brasil, as Forças Armadas “vêm concentrando todos os seus esforços, atuando no combate à covid-19, em apoio ao Ministério da Saúde e aos governos dos estados, de forma a assegurar o mais rápido e tempestivo apoio às necessidades da população”.
O órgão afirmou que o percentual de militares da ativa infectados pelo coronavírus é maior do que 13%. Segundo o Ministério, tal percentual é superior à média nacional.
“O Ministério da Defesa informa que, desde março de 2020, as Forças Armadas vêm concentrando todos os seus esforços, atuando no combate à Covid-19, em apoio ao Ministério da Saúde e aos governos dos estados, de forma a assegurar o mais rápido e tempestivo apoio às necessidades da população.
Por estarem na linha de frente, o percentual de militares da ativa infectados pela Covid-19 é maior que 13%, valor bastante superior à média nacional. Esse número elevado, somado à grande quantidade de dependentes, militares da reserva, reformados e pensionistas, normalmente de idade bastante avançada, que são atendidos por lei, tem mantido o sistema de saúde das Forças, e hospitais militares, no limite de suas capacidades, como no restante do país, em uma situação que evolui diariamente.
Mesmo com seu sistema de saúde fortemente pressionado, com carência de recursos e de pessoal, os profissionais de saúde militares também estão fortemente engajados nas Operações Covid-19 e Verde Brasil-2.
Seguimos atendendo à população civil, especialmente as comunidades indígenas e ribeirinhas, tanto na Amazônia como no Pantanal, realizando evacuação de pacientes nas regiões mais críticas, transportando toneladas de oxigênio, medicamentos e suprimentos, além de, em parceria com a academia e com a indústria, fabricando e reparando respiradores.
As Forças Armadas atuam com extrema dedicação, no limite de suas capacidades, sempre com total transparência.
Reiteramos que todas as demandas de órgãos judiciais e de controle serão tratadas e respondidas pelos canais competentes.”
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Com saúde em colapso, Comando Militar ignora pedido de Leite e não informa situação de seus hospitais no RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU