13 Março 2021
A delegada Andrea Mattos vai inquirir a advogada Doris Denise Neumann, de Nova Petrópolis (RS), que, ao participar de protesto contra medidas de isolamento tomadas pelo governador Eduardo Leite em frente à sede do governo estadual em Porto Alegre, na quarta-feira, 10 de março, mencionou a frase que encima o portão do campo de concentração nazista em Auschwitz.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“Os alemães vão entender a frase que eu vou falar: ‘Arbeit macht frei’ (O trabalho liberta). Não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre (sic). Pois aqui estamos reivindicando o trabalho. Se o governador que foi posto por nós no poder para a decisão não decidir que nós possamos trabalhar, a gente tira ele”, disse a advogada no protesto.
No pleito passado, Doris disputou a prefeitura de Nova Petrópolis pelo Podemos. Ela teve 1.347 votos e ficou em último lugar na disputa com outros três candidatos. A polícia recebeu várias denúncias sobre o pronunciamento da advogada. O vereador Leonel Radde, que também é policial, destacou a clara suspeita de Doris realizar “apologia ao nazismo, fazendo comentário elogioso a uma prática xenófoba”.
O artigo 20 da Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, reza que configura crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia religião ou procedência nacional”, que pode resultar em prisão de um a três anos, além de multa.
O município de Nova Petrópolis, localizado na serra gaúcha, a 84 Km da capital, orgulha-se de portar o título de “Cidade Educadora”. A prefeitura emitiu nota de repúdio lamentando que o nome da cidade e “sua ligação histórica com a Alemanha tenham sido envolvidos em tão infeliz manifestação”. Frisou que a comunidade local é “reconhecida pelo respeito e pela admiração à diversidade cultural”. O município, prossegue a nota, preza por educação e ensino de excelência, “garantindo que a imensa maioria dos nova-petropolitanos tenham capacidade de compreender a História”.
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS) também repudiou a manifestação da advogada: “É amplamente conhecida a relação da frase ‘o trabalho liberta’ com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de concentração de Auschwitz”, que, no seu portão de entrada com tais dizeres “transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade, quando se tratava da principal fábrica nazista de extermínio em massa.”
A advogada pode ser enquadrada, ainda, na lei de segurança nacional por “fazer em público a propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social”, informou a delegada.