22 Dezembro 2020
"O Natal confirma que o céu e a terra andam de mãos dadas, como um arco-íris", escreve Mauro Passos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em Ciências da Educação pela Università Pontificia Salesiana de Roma (UPS), pós-doutorado em Antropologia da Religião pela UFMG, Presidente do CEHILA (Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina/Cehila-Brasil).
Entre o suave silêncio, entremeado
de festas e encontro, um arco-íris
percorria a curva do céu.
(Bartolomeu Campos Queirós)
Natal – fazer circular o sagrado nas entranhas da terra. Reconfigurar o mundo e seus pertences. O céu e a terra caminham no corpo de Maria e José: “A minha alma engrandece o Senhor” (Lucas 1, 47), cantou a Virgem seduzida pelo recado do anjo. Mistério e encanto povoam a terra numa ciranda de amor. E o Menino (re)encantou a criação e iluminou o futuro.
O Natal confirma que o céu e a terra andam de mãos dadas, como um arco-íris. Deus e suas criaturas são inseparáveis. Pessoas e povos, culturas e religiões não podem mais ficar distantes. Tudo e todos estão juntos, lado a lado, assim como é sagrada a unidade de todo o Universo, sob o som de um mistério de delicadeza e cooperação. O Deus de Jesus é o “Pai nosso”. Estamos escritos na palma de sua mão.
De ora em diante, quem se quer bem, quem se faz bem, quem se ama e ama, “acarinha” Deus em seu coração e o faz infinitamente feliz, na convivência, respeito e amor ao Outro. Ao diferente. O lugar do nascimento e do encontro com Deus é no cotidiano da vida. Aí está a vida – diligência de busca e vigília de espera. Continente com muitas ilhas. A celebração do Natal ensina que não há nada que nos distancia de Deus. Ressoa a promessa: “Estou comprometido, divinamente, com todos. Olhai as flores no campo e as estrelas do firmamento. Vejo-vos como filhos. Agora, sois também divinos. Meus herdeiros”. É preciso olhar longe para equilibrar o que está no cotidiano.
O Natal rabisca uma mensagem cósmica no Universo: “Vós que andais curvados sob tão pesadas cargas, lembrai: há em vós uma marca divina. Pertenceis a Deus e nada vos pode separar de seu amor. Confiai!” O sentido da vida é deixar-se envolver num amor que faz partilha e frui para “crescer de todo lado.”
Na indigência, nasce um Menino – ensaio de globalidade, brado no silêncio, renovação da história “na curva da terra e do céu”. Integrado com a vida, sonha reconstruir a beleza do mundo. Já dizia Guimarães Rosa; “Com o nascimento desse menino, o mundo tornou a começar”! O Natal consagra o real humanismo no exercício de uma cidadania completa, integradora, libertadora.
A religião é o cultivo de valores para transformação da vida. Para alcançar o horizonte do sagrado, é necessário olhar longe e quebrar as aparentes certezas. Construir com fé e coragem discretas esperanças. Um momento com tão baixa taxa de humanidade carece de outra agenda no tempo e no espaço! De ousadia e esperança é o futuro.
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Natal - Ciranda de amor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU