01 Outubro 2020
O cardeal alemão: "Na eleição ele aceitou este mandato".
"Um gesto de proximidade ao cardeal George Pell, mas para o Papa é muito claro que as finanças devem ser sanadas, é o mandato que ele aceitou no momento da eleição. E continuará até que termine sua tarefa". Desde sempre é considerado um dos aliados mais próximos do Papa Francisco na Cúria Romana: o cardeal alemão Walter Kasper, teólogo de fama internacional e considerado um dos grandes eleitores de Bergoglio, fala ao Il Giornale após os recentes escândalos e a defenestração do cardeal Angelo Becciu, acusado pela magistratura do Vaticano, ainda não formalmente, de peculato por transferência de fundos do Óbolo de São Pedro para a Caritas de Ozieri, Sassari, para serem usados pela cooperativa social de seu irmão.
A entrevista é de Fabio Marchese Ragona, publicada por Il Giornale, 30-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Cardeal Kasper, no meio desta tempestade o Papa chamou o Cardeal Pell da Austrália.
Fiquei sabendo, embora não acredite que ele voltará a trabalhar nas finanças do Vaticano, ele agora é emérito como eu! Mas o Papa certamente quer demonstrar-lhe proximidade e amizade pelo que sofreu.
Mas o Papa está mostrando que quer fazer uma limpeza, não é?
É verdade, o Papa quer limpar o Vaticano, especialmente nesse âmbito das finanças, mas não acompanhei de perto os últimos acontecimentos do Cardeal Becciu. É preciso dizer, porém, que Francisco já iniciou esse caminho há bastante tempo.
Pode nos explicar melhor?
A tarefa de colocar em ordem as finanças do Vaticano é uma tarefa que ele aceitou dos cardeais quando foi eleito. Foi falado sobe isso no pré-conclave, quando muitos ficaram chocados com o escândalo Vatileaks e com o que acabou aparecendo. A partir daquele momento, Francisco decidiu limpar e renovar a Cúria Romana. Obviamente que todos nós sabemos, mas ele também bem sabe, que esse é um processo muito duro e não fácil.
Alguém, porém, insinua que o Papa está sozinho e que o pontificado está perdendo peças.
Não é nada disso! Imagine! O fato é que renovar e reformar uma instituição como a Cúria Romana, que é muito antiga e complexa, não é uma coisa fácil, o Papa faz o que pode! Não é apenas um problema organizacional: é preciso também uma mudança interna das pessoas, mudando profundamente a sua mentalidade, mudando determinados rituais e isso não pode ser feito da noite para o dia!
Nos últimos anos, Francisco, sem por acaso, fez muitos inimigos na Cúria.
Há pessoas que não querem as reformas, é evidente, mas não sei honestamente quantos são. O Papa está decidido a seguir em frente: é necessária uma renovação, não se pode deixar tudo como está, isso é claro. Bento XVI já havia iniciado o caminho da reforma e agora Francisco continua.
Na sua opinião, a arrecadação para o Óbolo de São Pedro, no dia 4 de outubro, será afetada por estes últimos escândalos justamente relativos ao dinheiro de caridade do Papa?
Obviamente, são acontecimentos terríveis, representam um escândalo para os fiéis e até o Papa está escandalizado. Tudo isso, porém, não deve fazer parar a Igreja: é um processo difícil, mas é necessário mudar para melhor, e sabemos que não pode ser feito num instante, com um comando imediato.
Uma forma de mudar, por exemplo, é a centralização dos recursos financeiros, um processo de reforma que o Papa já pediu há dois anos e que está em andamento. Em sua opinião, é o caminho certo?
Penso que é necessário, é preciso uma organização precisa, um centralismo e algum controle. Em uma instituição como a Santa Sé, é fundamental. E, acima de tudo, é importante que haja cada vez mais controles sobre as finanças: na Alemanha já faz muito tempo, no Vaticano, felizmente, as coisas também vão nessa direção.
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“O Papa está escandalizado: vai fazer uma limpeza. Mais controles e finanças centralizadas”. Entrevista com o cardeal Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU