01 Setembro 2020
"A Irmã “Dede” e Irmã Simone. A primeira a favor de Trump, a segunda de Biden: ambas são a representação perfeita das divisões que atravessam a Igreja hoje, nos tempos do Papa Bergoglio. De um lado, a trincheira pró-vida da direita clerical, do outro a justiça social sempre evocada pelo pontífice argentino. O Deus dos exércitos e da doutrina ou o Deus da misericórdia", escreve Fabrizio D'Esposito, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 31-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Duas irmãs e as eleições presidenciais estadunidenses. A irmã Deirdre "Dede" Byrne coroou Donald Trump como "o presidente mais pró-vida que nossa nação já teve" na convenção republicana. E a irmã Simone Campbell, que ao contrário vai apoiar Joe Biden na convenção democrata e na frente de jornalistas, defende que “o aborto não é nosso problema”. Em vez disso, "a nossa agenda são os problemas de justiça econômica, que o Papa Francisco sempre nos lembra".
Quando há eleições políticas na Itália, estamos acostumados a ver as freiras apenas no dia da votação, enquanto silenciosas e compostas saem dos mosteiros para votar. Nos Estados Unidos, na semana passada, foram a última fronteira do embate entre os dois candidatos à Casa Branca, para abrir brechas entre os eleitores que creem. A irmã "Dede" apareceu na convenção republicana com seu vestido preto, completo de véu. Por três décadas ela foi cirurgiã com grau de coronel do Exército. Como oficial médico, ela operou no Afeganistão e no Sinai e, em 11 de setembro, foi uma das primeiras a correr entre os escombros do Marco Zero. No início do milênio fez os votos (religiosos) e ingressou na Congregação Católica dos Pequenas Operárias do Sagrado Coração de Jesus e Maria. Em seu discurso a favor de Trump, ela recordou seu compromisso com os pobres e doentes em vários países: Haiti, Sudão, Quênia e Iraque. Hoje ela está atuando em Washington, em uma clínica que atende os necessitados. Mas para a combativa Irmã "Dede" "os maiores marginalizados são os nascituros". Portanto, contra Biden e Kamala Harris que "apoiam os horrores do aborto e do infanticídio", devemos escolher Trump, cuja "fé na santidade da vida transcende a política".
Veja só. A irmã Simone Campbell falou na convenção democrática como uma laica comum: vestido floral e cardigã azul, mas sem referências ao arco-íris LGBT que costuma ser seu traço distintivo. Diretora da Network, que luta pela justiça social, e acima de tudo líder das Nuns on the bus, as freiras no ônibus, sempre defendeu posições consideradas muito "abertas" pela Cúria Vaticana sobre aborto, direitos civis e diálogo com as outras religiões. O seu discurso tornou-se uma oração dirigida ao "Espírito divino" pelos "mais marginalizados". Os pobres: sejam crianças desnutridas ou migrantes. E em total concordância com o ecologismo do Papa Francisco. Sua oração foi articulada em "visões". Aqui está a parte mais importante: “Uma visão que coloque um fim ao racismo estrutural, à intolerância e ao sexismo tão prevalentes agora em nossa nação e em nossa história. Uma visão que garanta que as pessoas famintas sejam alimentadas, as crianças sejam alimentadas, os imigrantes sejam bem-vindos”.
A Irmã “Dede” e Irmã Simone. A primeira a favor de Trump, a segunda de Biden: ambas são a representação perfeita das divisões que atravessam a Igreja hoje, nos tempos do Papa Bergoglio. De um lado, a trincheira pró-vida da direita clerical, do outro a justiça social sempre evocada pelo pontífice argentino. O Deus dos exércitos e da doutrina ou o Deus da misericórdia.
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Eleições presidenciais EUA. Existe até o desafio das religiosas: Irmã “Dede” para Trump e Irmã Simone para Biden - Instituto Humanitas Unisinos - IHU