02 Julho 2020
Uma importante escola de estudos islâmica do Paquistão emitiu um édito religioso criticando a construção de um templo hindu, com a ajuda estatal, na capital Islamabad.
A reportagem é de Zahid Hussain Khan, jornalista paquistanês que cobra histórias sobre os direitos humanos, perseguição a minorias e extremismo religioso, publicada por UCA News, 01-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A fatwa da madraça Jamia Ashrafia, em Lahore, foi publicada quase uma semana depois que o primeiro-ministro Imran Khan aprovou a doação de 100 milhões de rúpias paquistanesas (597 mil dólares) sob a recomendação do ministério religioso federal para construir o templo.
Mapa do Paquistão. (Fonte: Geology)
Alguns muçulmanos recorreram aos tribunais e às redes sociais para protestar.
“É permitido consertar as casas religiosas existentes de comunidades minoritárias em um Estado islâmico de forma que os não muçulmanos pratiquem sua religiosidade com liberdade e com certas limitações”, lê-se do édito de 27 de junho.
“No entanto, segundo a sharia, é proibido não muçulmanos construírem locais de culto novos ou reconstruir aqueles que não estavam sendo usados. Isso é um pecado em um Estado islâmico”.
A fatwa questiona a decisão do governo de usar o dinheiro do contribuinte em casas religiosas de comunidades minoritárias.
O templo também enfrenta um imbróglio jurídico na Suprema Corte de Islamabad, onde uma petição foi apresentada. Seu texto pede que a construção seja interrompida.
“Se permitirmos que os hindus construam seus templos hoje, amanhã outras minorias virão com pedidos semelhantes”, lê-se na petição, que acrescenta que o terreno destinado ao templo religioso viola o plano diretor de Islamabad.
O tribunal não acatou o pedido de interromper a construção, mas emitiu uma notificação à Autoridade de Desenvolvimento da Capital para que explique se a alocação de terra constituía uma violação do plano diretor da cidade.
“No Paquistão, as minorias têm o direito de praticar sua religião da mesma forma que os muçulmanos”, observou o tribunal.
Kesoo Mal Kheeal Das, membro hindu do parlamento, lamentou a situação causada em torno da construção do templo.
“O terreno havia sido inicialmente alocado pelo ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif não só para os hindus, mas também para os cristãos, parses e outras minorias para que construíssem seus centros de apoio comunitário em Islamabad”, contou Das ao sítio UCA News em 30 de junho.
“Islamabad é a capital do Paquistão. Todas as minorias têm o direito de ter os seus centros comunitários e ou locais de culto em sintonia com a liberdade religiosa garantida pela constituição. É também importante para a imagem do Paquistão no mundo”.
Das lembrou a promessa feita pelo fundador do Paquistão às minorias.
“Quem se opõe [ao templo], na verdade se opõe à ideia mesma do fundador do Paquistão, Muhammad Ali Jinnah, concernente ao estabelecimento do Paquistão”, acrescentou.
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Paquistão. O primeiro templo hindu de Islamabad enfrenta uma fatwa islâmica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU